Respingos
Trago
há tempos em pensamento uma referência singular à organização
urbanística da vila, que foi capital da Ilha e ainda hoje, é
aquela que a possui em melhores condições, apesar de, ao longo dos
anos, diversos atropelos e fortes atrocidades do camartelo ter
sofrido…não lhe permitindo usufruir de melhores traçados urbanos.
Nem
sempre assim se tem entendido. Nem todos os gestores que têm passado
pela administração da Autarquia se hão apercebido dessa realidade.
E talvez por isso, atropelam ou destroem um património que muitos
desejariam possuir. Razão essa que, apesar de todas as vicissitudes,
não impede de estar presente, sempre que possível, neste obscuro
cantinho.
Muito
embora não esteja possuidor das potencialidades físicas que me
permitiriam trazer a esta nota o que julgo ser um dever de todos os
cidadãos, aqui estou, no entanto, a cumprir um singelo dever.
Bem
ou mal, pouco importa.
Quem
alguma vez teve a oportunidade, eu diria felicidade de sobrevoar a
avoenga vila picoense, ficou com uma impressão admirável do seu
aspecto urbanístico e, igualmente, das diversas muralhas que separam
a parte urbana do mar circundante.
Posso estar a
fantasiar um pouco, pelo muito que quero a esta terra que foi o meu
berço natal. Não Importa. A responsabilidade é somente do escriba.
Até
meados do século dezanove a vila não possuía muralhas de defesa.
Estava sujeita ao mar e às suas tempestades ciclónicas. Na memória
de alguns ainda se mantem o ciclone de 1893, com as suas vítimas e
desastres materiais.
A
vila ficou em desastroso estado e a partir daí as entidades tiveram
de fazer algumas obras de defesa. Uma delas, se não erro, foi uma
muralha por cima do lajido, que foi iniciada, mas não continuada,
porque os marítimos julgaram que era prejudicial à defesa da Vila e
provocaria, em ocasião de temporal, o enchente da Lagoa e a
impossibilidade do escoamento das águas. As obras foram suspensas e
o início do alicerce lá está há mais de cem anos.
Nos primeiros anos do
século passado, o Historiador Lacerda Machado apresentou na Câmara
Municipal um projecto para a “modernização da Vila”, com a
respectiva memória descritiva. O projecto foi aprovado e, depois de
exposto alguns anos na sala das sessões, deixou de ser visto.
Em
1936, um violento ciclone derrubou o muro da Lagoa, entre as casas
dos botes do Ribeira do Meio, ou “degráus do José da Emília” e
a Rua Nova. Os técnicos e dirigentes da Direcção Distrital de
Obras Publicas (Engenheiro Angelo Corbal) receberam instruções
imediatas e as obras foram iniciadas. Um ano depois estavam
concluídas, incluindo o alteamento, regularização do piso e
aumento da plataforma exterior, onde agora está o monumento ao
Baleeiro, até à zona do antigo Juncal - aplicação alvitrada pelo
General Lacerda Machado - espaço que esteve muitos anos a servir de
lixeira e “pasto” da ratazana, com graves prejuízos para a saúde
publica, até que foi ocupado, com algum custo, pelo campo de jogos.
Transferido este para outro local, o campo, transformado em “Jardim
da Baleia”, está em conclusão com os anexos: Recepção do
Turismo e outros imóveis. Quando ficará concluido (apesar de
inaugurado…) e integrado na CAPITAL DA CULTURA DA BALEIA, ao
serviço do público?!
Vila
das Lajes, Outº. 2017
E.Ávila
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