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domingo, 4 de março de 2018

DO MEU SENTIR


Crónicas da minha ilha

De vez em quando, sou surpreendido com o título de qualquer outro jornalista ou colaborador, muito embora ao seu e erudito Director, o consagrado jornalista e escritor, Padre Xavier Madruga se fique a dever a criação deste “cantinho” a cujo autor sempre procurei prestar homenagem.
Outro refiro hoje, aqui, para lembrar os notáveis trabalhos que nos deixou o Historiador probo e respeitado e não menos erudito, o Gen. Lacerda Machado. Escreve o distinto Lajense: “À falta de forno, cozeram na laje o pão rudimentar das suas refeições frugais, e mais tarde o bôlo (…); assavam a carne no borralho; o funcho substituiu a hortaliça, que inda não houvera tempo de cultivar, ou de que faltavam sementes, uso que ainda subsiste, pôsto que raramente; inventaram môlhos, gratos ao paladar, para suprir a falta do azeite de oliveira, tardia em frutos, costume que perdura, pois só recentemente se começou a tentar a sua cultura.” (1)
Mais: até tarde, durou o primitivo, principalmente nos quintais, junto das habitações.
A Leste da Vila das Lajes muitos procuram o funcho como hortaliça alimentar. Como hortaliças, outras ervas se iam descobrindo nas hortas e nos terrenos baixos, que entraram no catálogo das plantas preferidas.
Logo se foram construindo os fornos caseiros (para a cozedura do bolo - pão da época). Outros fornos construiram os lavradores, ao lado daquele, muito maiores em área, para a secagem do milho colhido nas terras dos proprietários. (Conheci dois: um grande e o outro pequeno ainda em uso semanal).
Já há muitos anos que deixou de utilizar-se a “Burra” para guardar o milho, com a capa de casca, destinado ao consumo familiar. Passou a ser arquivado em barricas ou “arquibancos” nas próprias residências.
Com a cultura do trigo modificaram-se alguns usos domésticos, passando o trigo a ser utilizado em boa parte da ementa caseira, pois é sabido que o milho cá apareceu depois de descoberto nos Estados Unidos da América e, de lá, para aqui importado.
As atafonas ou instrumentos de triturar o milho até ficar em farinha, devem ter sido trazidos pelos povoadores - refiro a atafona e o moinho de vento. Nas cozinhas existiam as pequenas atafonas para moer a cevada. As atafonas movidas pelo “gado da porta”, serviam para a farinação do trigo e do milho e para acudir à falta de pão.
Além dos géneros de produção local já indicados, usava-se não somente as carnes extraídas dos diversos animais, como ainda o peixe cozinhado de diversas formas.
Nesta zona Pico o peixe é bastante utilizado pela população e faz excelentes “pratos”. Lembro o caldo de peixe fresco, que não só os lajenses, como até os visitantes apreciam.
Aqui há umas dezenas de anos chegou a esta vila um casal com filhos, que aqui se fixou, cujo chefe vinha exercer funções oficiais. Voltando à Metrópole um dos filhos tornou-se jornalista e, numa das suas crónicas, escreveu sobre o caldo de peixe. E usou esta expressão ou outras idênticas – foi há tantos anos!: ”Caldo de peixe como o que se cozinhava na vila das Lajes do Pico, nunca mais encontrei!”.
    1)Lacerda Machado, História do Concelho das Lages, 1991, pag. 78.
Lajes do Pico, 15 Fev. 2018
E. Ávila

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A VILA QUE TEMOS E QUE PODÍAMOS TER...

Respingos

Trago há tempos em pensamento uma referência singular à organização urbanística da vila, que foi capital da Ilha e ainda hoje, é aquela que a possui em melhores condições, apesar de, ao longo dos anos, diversos atropelos e fortes atrocidades do camartelo ter sofrido…não lhe permitindo usufruir de melhores traçados urbanos.
Nem sempre assim se tem entendido. Nem todos os gestores que têm passado pela administração da Autarquia se hão apercebido dessa realidade. E talvez por isso, atropelam ou destroem um património que muitos desejariam possuir. Razão essa que, apesar de todas as vicissitudes, não impede de estar presente, sempre que possível, neste obscuro cantinho.
Muito embora não esteja possuidor das potencialidades físicas que me permitiriam trazer a esta nota o que julgo ser um dever de todos os cidadãos, aqui estou, no entanto, a cumprir um singelo dever.
Bem ou mal, pouco importa.
Quem alguma vez teve a oportunidade, eu diria felicidade de sobrevoar a avoenga vila picoense, ficou com uma impressão admirável do seu aspecto urbanístico e, igualmente, das diversas muralhas que separam a parte urbana do mar circundante.
Posso estar a fantasiar um pouco, pelo muito que quero a esta terra que foi o meu berço natal. Não Importa. A responsabilidade é somente do escriba.
Até meados do século dezanove a vila não possuía muralhas de defesa. Estava sujeita ao mar e às suas tempestades ciclónicas. Na memória de alguns ainda se mantem o ciclone de 1893, com as suas vítimas e desastres materiais.
A vila ficou em desastroso estado e a partir daí as entidades tiveram de fazer algumas obras de defesa. Uma delas, se não erro, foi uma muralha por cima do lajido, que foi iniciada, mas não continuada, porque os marítimos julgaram que era prejudicial à defesa da Vila e provocaria, em ocasião de temporal, o enchente da Lagoa e a impossibilidade do escoamento das águas. As obras foram suspensas e o início do alicerce lá está há mais de cem anos.
Nos primeiros anos do século passado, o Historiador Lacerda Machado apresentou na Câmara Municipal um projecto para a “modernização da Vila”, com a respectiva memória descritiva. O projecto foi aprovado e, depois de exposto alguns anos na sala das sessões, deixou de ser visto.
Em 1936, um violento ciclone derrubou o muro da Lagoa, entre as casas dos botes do Ribeira do Meio, ou “degráus do José da Emília” e a Rua Nova. Os técnicos e dirigentes da Direcção Distrital de Obras Publicas (Engenheiro Angelo Corbal) receberam instruções imediatas e as obras foram iniciadas. Um ano depois estavam concluídas, incluindo o alteamento, regularização do piso e aumento da plataforma exterior, onde agora está o monumento ao Baleeiro, até à zona do antigo Juncal - aplicação alvitrada pelo General Lacerda Machado - espaço que esteve muitos anos a servir de lixeira e “pasto” da ratazana, com graves prejuízos para a saúde publica, até que foi ocupado, com algum custo, pelo campo de jogos. Transferido este para outro local, o campo, transformado em “Jardim da Baleia”, está em conclusão com os anexos: Recepção do Turismo e outros imóveis. Quando ficará concluido (apesar de inaugurado…) e integrado na CAPITAL DA CULTURA DA BALEIA, ao serviço do público?!
Vila das Lajes, Outº. 2017

E.Ávila

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A MODERNIZAÇÃO DA VILA


NOTAS DO MEU CANTINHO


É este o título com que o então Major Lacerda Machado intitulava um artigo publicado no jornal “As Lages”(l), há quase cem anos e no qual tecia diversas considerações sobre o projecto que apresentara, então, à Câmara Municipal sobre a construção da avenida marginal. Não vou repetir o que nessa altura escreveu o distinto General lajense. Fico-me apenas pela referência de que foram necessários cem anos, um século, para que a Vila das Lajes viesse a beneficiar de uma adequada modernização.
Não se construíu a avenida proposta mas, antes, procedeu-se à limpeza do antigo Juncal - a lixeira da zona – e um centro infeccioso com lamentáveis vítimas provocadas pelo surto de doença pestosa proveniente da ratazana que ali se desenvolvia, construindo-se o já antigo campo de jogos para o qual todos os lajenses trabalharam. (Também ajudei, levando, com outros da minha idade juvenil, caixotes de terra para o nivelamento do campo. Há quantos anos!)
O campo foi transferido há poucos anos, embora o novo recinto não tenha, ao que dizem, as dimensões regulamentares desejadas. Mas, antes um mal menor do que nada feito.
O espaço do antigo Juncal, encravado na parte Oeste da Vila e formado pela muralha que a veio defender dos temporais marítimos, está a ser transformado em jardim, “Jardim da Baleia”, evocação simpática duma época de desenvolvimento industrial e de algum desafogo económico que desapareceu.
Para mim, que quase desconheço a leitura de uma planta topográfica, não sei se está, convenientemente, acautelada a ligação, pelo Oeste, das ruas transversais da Vila que, saindo da antiga Rua Direita, ligam ao Juncal, dando origem à actual via que circundava o campo e que havia sido melhorada aquando do Centenário da Festa de Lourdes, em 1982. Um novo arruamento está a ser, acertadamente, construído junto da muralha, permitindo uma circulação de veículos em recta. No lado oposto, onde corre ainda o actual arruamento que liga as ruas vulgarmente denominadas de Baixo, da Cadeia, do Engenho e dos Sapateiros, não sei como vai ficar a ligação dessas artérias para utilização de peões. Julgo que deve manter-se o actual arruamento, embora corrigido e só destinado a peões. Junto da muralha ficará o novo arruamento reservado ao trânsito de pessoas e veículos.
Conheci em Angra, hoje Cidade Património Mundial, quando há umas dezenas de anos por lá andei, arruamentos que, partindo da rua da Sé iam e vão terminar na rua de Cima da Rocha. Para evitar a circulação de veículos - no tempo bem poucos automóveis havia - estavam colocados blocos a impedir essa circulação. E parece que ainda hoje o trânsito é assim regulado. Coisa semelhante pode cá fazer-se. Se o Autor do projecto das obras em execução não previu essa circunstância, a Fiscalização respectiva pode promovê-la, julgo eu.
Precisamente, há um ano publiquei neste jornal um escrito com o título “Faça-se”. Reportava-me aos trabalhos que agora estão a decorrer. Mantenho o que então escrevi. No entanto, há que acautelar certos pormenores que, não o sendo, podem ser prejudiciais no futuro. É por isso que, em todas as Empreitadas há, ao que sei, uma entidade fiscalizadora, representante do dono da obra. Não será?
Na opinião de um Arquitecto que há anos por aqui passou, os arruamentos da vila foram todos voltados a Oeste para permitirem a saída ou fuga dos habitantes em ocasiões de temporais que sempre atormentaram os lajenses, até há bem poucos anos. A muralha de defesa foi construída há um século, embora com projecto defeituoso e só há poucos anos se conseguiu melhorar o que antes havia sido feito, muito embora houvesse técnicos que projectassem o conhecido “muro da vergonha” que bem pouco durou. Não se repita, pois, o que então se fez...
Que a obra prossiga e que a Vila retome o lugar de primeiro centro urbano da Ilha, com uma existência de cinco séculos, mas que se acautele o direito de circulação das pessoas e se não prejudique o secular traçado urbano!
_________
1) jornal As Lajes, nº 15, de 15-11-1914

Vila das Lajes do Pico,
Janº. 2013
Ermelindo Ávila