Respingos
O Pico. A Ilha onde nasci, vivi
os primeiros anos e, depois, os anos mais que Deus me tem dado. Mas
nunca deixei de viver no Pico, quer estivesse ausente por dias,
semanas, meses ou anos. É uma ilha que está sempre presente no meu
espírito, no melhor do meu ser.
Mesmo
ausente da terra, os seus projectos, os seus problemas, as suas
iniciativas, o seu progresso vivem comigo. Recordo os meus anos de
juventude, cujos estudos me afastaram meses seguidos da terra… Como
era enleante subir aquele magnífico monte que defende a cidade e ver
ao longe o pico do Pico. Que nostalgia… que saudades da terra. Que
desejos tinha de atravessar o mar imenso que nos separava e vir
somente, por um instante que fosse, pisar as “pedras negras “ do
Pico.
Ainda
agora é a soberba montanha que, ao amanhecer, vigio da minha janela,
para que me indique o estado do tempo que vamos ter. E lá no alto,
no cimo do pico do Pico vejo a direcção das nuvens… os reflexos
do Sol nascente… as nuvens encapeladas… tudo indicativo do tempo
que vamos ter... E o poente do Astro Rei?!...
Deixem-me
que escreva, hoje, prosa solta, talvez sem nexo, somente para exaltar
a beleza maravilhosa deste Pico que um dia remoto, que a História
não registou, emergiu das salsas ondas para ficar no meio deste
Atlântico.
O
marinheiro e o agricultor, de madrugada, quando saíam do leito e
espreitavam o tempo para um novo dia de trabalho, era pelo rodar das
nuvens ao redor da montanha, que sabiam o tempo que os esperava: Lã
crameada, chuva grada; raivas no poente, coze massa e mete gente;
raivas no nascente, toca os bois e anda sempre.
E tantos mais que a sabedoria popular criou e utilizou durante tantas
décadas...
Mas
o Pico é mais do que o barómetro natural que os naturais sabem
observar e “ler”.
É,
igualmente, inspiração poética para muitos que deixaram, ao redor
dos tempos, poemas maravilhosos que, ainda hoje, são o encanto de
quantos nele se inspiram.
Recordo
Manuel de Arriaga (não discuto, por agora, a naturalidade, e podia
fazê-lo…)
amante do seu Pico, como tantos outros e lembro somente o saudoso
Doutor José Enes, (1)
com o excelente poema ao Pico, que outro saudoso picoense, o maestro
Emílio Porto, inspiradamente musicou.
Fico-me
pelos poentes outonais que os pintores estrangeiros e vários são os
que por aqui têm passado, aproveitam para deixar impressões em suas
telas artísticas.
Nunca
subi à maravilhosa montanha. Um dia, por acaso, em que tive a
ventura de viajar num avião da SATA, ao aproximar-se do Pico, uma
hospedeira de bordo anuncia que o Comandante ia mostrar aos
passageiros um espectáculo inédito: O pico do Pico. E fê-lo de
maneira distinta fazendo o avião circular sobre o “eirado” e
dando a volva ao Pico. Naturalmente, nós os passageiros que
viajávamos da Terceira para o Faial, ficámos maravilhados com o
espectáculo que não mais se me foi dado apreciar. Ao longe, a
Terceira, e depois: a Graciosa, São Jorge, o Faial e o Pico…a
nossos pés. Noutra ocasião, e foi só, Minha Mulher, de saudosa
memória, e eu, viajávamos quase madrugada ainda, de São Miguel
para o Pico. Ao aproximar-se o avião (SATA) da Ponta da Ferraria,
quando se preparava para deixar S. Miguel e sobrevoar o Atlântico,
Minha Mulher chama-me a atenção para o que via no horizonte, a
Oeste: O Pico do Pico, um triângulo bem definido sobre o Oceano. Uma
maravilha que desapareceu quando a aeronave fez rumo à Terceira.
Depois só vim a descobrir entre nuvens o meu Pico, quando me
aproximava da minha ilha. Fenómenos maravilhosos!
Fenómenos que não se repetem…
Lajes do Pico, Capital da
Cultura da Baleia
10-Novembro- 2017
E.Ávila
Montanha do meu segredo
Montanha do meu destino
Tocaste-me com um dedo
Imprimindo em mim um signo
Quando me viste nascer
Montanha da minha dor
Montanha do meu chorar
Olhaste-me com amor
Com um fundo e puro olhar
Quando me viste nascer
Montanha dos meus desejos
Da minha louca ambição
Encheste-me a alma com beijos
Do fogo do teu vulcão
Quando me viste nascer
Montanha da minha sorte
Oh génio do meu viver
Encomenda-me na morte
Quando me vires morrer
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