NOTAS DO MEU CANTINHO
Em anos
passados, conheci algumas do género de mercearia, a funcionar nesta ilha. Uma
delas, na Calheta de Nesquim, desempenhou, durante alguns anos, uma actividade
muito proveitosa, não só para os seus associados, mas sobretudo para os
faialenses, picoenses, jorgenses e terceirenses, com as carreiras semanais no
verão, da lancha “Calheta”, construída em Sto Amaro, em 1925, e que está a terminar
seus dias no varadouro da Madalena, desde 1996. E que óptimos serviços prestou!
Foi a primeira embarcação motorizada a fazer, semanalmente, a carreira entre as
ditas ilhas. Depois, por razões que desconheço, foi vendida a um armador da
Horta, que, um ano depois, a vendeu à Empresa Açoriana de Navegação e Pescas,
Lda. Foi considerada a “Rainha das Lanchas” no dizer de Amílcar Goulart. (1)
A “Calheta” foi construída para fazer viagens, na época
estival, entre as ilhas do grupo central – Faial, Pico, São Jorge e Terceira.
Inicialmente, que me lembre, chegava ao porto de Angra, todas as semanas. Era
uma alegria ver o facho do Monte Brasil dar sinal de embarcação, vinda de S.
Jorge e a encaminhar-se para baía. No pátio da Alfândega aguardávamos, com ansiedade,
a chegada ao cais e lá íamos saber, junto da tripulação, notícias do Pico. Uma
tripulação simpática que conhecíamos de há muito: Mestre José Goulart,
maquinista Alziro, que depois foi para S.ta Maria como faroleiro, e os tripulantes
João da Antonica, dos Fetais, José Trindade, da Calheta e Francisco Homem, de
Santa Cruz das Ribeiras. Simpáticos e serviçais que eles eram. (2)
A Cooperativa
Calhetense de Navegação e Pescas, exerceu a sua actividade, além da exploração
do tráfego marítimo, no comércio de fazendas, materiais de construção civil e
mercearias.
A “Espalamaca”, a mais emblemática “lancha
do Canal”, denominava-se, primitivamente, “Maria Utília”. Não passava de uma
canoa motorizada, construída nas Velas, em 1919, com 9,70 m de comprimento.
Renovada em 1944, passou a ter 13,44 metros de comprimento. Beneficiou de três modificações,
a última em 1976, e depois de estar vários anos abandonada no varadouro da
Madalena, é agora restaurada nos estaleiros de Sto Amaro. Inicialmente, (em 1949)
tinha 14,57m de comprimento e, actualmente, o seu comprimento é de 17,46 m.
E voltamos à
“Calheta” para deixar a pergunta: Porque não é restaurada, tal como foi a
“Espalamaca”?
Nas Lajes, além
de outras que ainda existem - houve duas cooperativas, cada uma delas a
explorar o comércio de mercearia. Uma outra existiu em Santa Cruz das Ribeiras.
Mais próximo houve cooperativas de lacticínios na Ribeirinha e na Almagreira.
É pena que as cooperativas não tenham
uma organização mais sólida, promovendo um comércio de produtos que só beneficiaria
os seus associados e contribuiria para a consolidação dos preços dos géneros.
Verdade seja que estamos a atravessar
um período de grande carestia.
No entanto, é de realçar a actividade
dos super e hipermercados, com uma estabilização de preços aceitável, embora não
deixem de aparecer, em determinadas épocas, géneros de elevado custo o que representa
um sério agravamento da modesta economia das famílias picoenses.
_____
1)
Quaresma,
Goulart, “Maresias”, III volume
2)
Ibidem
Lajes do Pico,
1-7-2017
Ermelindo Ávila
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