NOTAS DO MEU CANTINHO
Outrora assim era. Hoje é bastante
diferente. Os hábitos e costumes vão-se modificando com o decorrer dos tempos e
as pessoas vão-se adaptando aos novos sistemas de vida. E os mais antigos, que
ainda recordam os velhos tempos, têm de se ir habituando aos poucos, sem apelo
nem agravo.
Semeava-se o milho geralmente na
Primavera e colhia-se no Outono. Uma cultura que exigia grandes trabalhos: o
semear, sachar, abarbar, desbastar, cortar a espiga e, depois, a colheita. Tudo
tinha as suas épocas próprias e precisava de uma atenção especial da parte do
Lavrador.
O trigo, embora fosse e ainda é um
cereal menos produtivo, não necessitava que o Lavrador lhe dispensasse tantos
cuidados, a não ser, no período da maturação, vigiá-lo da praga (pássaros
diversos, principalmente o canário) que o perseguia para lhe retirar o grão... E
foi certamente, por isso que o lavrador o substituiu pelo milho, quando o cereal
apareceu.
O milho passou a ser o sustento
principal das famílias pois era e é um cereal muito mais substancial. Grandes
extensões de milho eram cultivadas. E foi assim que se procedeu à arroteia de
muitos terrenos que estavam ainda abandonados, principalmente no alto da ilha.
Presentemente, essas terras estão a
ficar abandonadas ou transformadas em relvados para apascentação de gados
domésticos.
Mas, com a cultura do milho, o mesmo
vai acontecendo. Deixou de haver a “desfolhada”, tal como a descreve Júlio
Dinis, e passou a fazer-se a “ensilagem” destinada ao sustento do gado doméstico.
(A ensilagem é feita em grandes sacos de plástico e não em silos, de
dispendiosa construção)
Quando na ilha não existiam estradas (a estrada
Lajes-Piedade foi inaugurada em 1943), eram os tradicionais “carros de bois”
que faziam o transporte do milho, geralmente em maçarocas. Passavam pelas ruas
da vila, fazendo uma grande chiadeira, que por vezes causava incómodo
principalmente às pessoas doentes. Isso levou a Autoridade Administrativa a
publicar editais proibindo o estridente ruído que foi evitado com a aplicação
de qualquer produto nos eixos.
A esfolhada, ou retirada da casca da
maçaroca, reunia velhos e novos. Não faltava mesmo o elemento feminino. Era
sempre um serão agradável, onde se contavam “casos”, anedotas, ditos jocosos,
por vezes. Um alvoroço quando aparecia o festejado “milho rei”.
Chegaram – e felizmente! – as estradas. Depois as carrinhas motorizadas substituíram os
carros de um boi ou de dois bois. Praticamente desapareceram as esfolhadas,
feitas nas casas rurais dos próprios terrenos de cultivo. São poucas as Casas
de lavoura que cultivam ainda este cereal. Era uma cultura trabalhosa e hoje
não há, quase, mão-de-obra. A população diminuiu bastante e a juventude
actualmente não vai para o trabalho rural. Ou estuda ou sai da ilha à procura
de emprego nas cidades. Isto mesmo já escrevi tantas vezes que, suponho, vai-se
tornando talvez fastidioso ler, uma vez mais, estas pequenas crónicas. Agora
são as ensilagens que para comodidade do lavrador, ficam arrecadadas nos
próprios terrenos de produção e servem, principalmente no Inverno, para
sustento dos animais bovinos ou “gado da porta” como é conhecido.
Talvez por isso, o dia da ensilagem é
um dia especial. Geralmente, reúnem-se os familiares e os amigos e no final há
a tradicional “merenda” que mais não é do que uma pantagruélica e abundante
refeição especial preparada para aquele dia.
O pão de milho e o bolo são raridades
que praticamente se encontram, em pequenas quantidades, embora de fabrico
caseiro, nos mini e super mercados.
Actualmente o maior consumo vai para o
pão de trigo fabricado nas Padarias licenciadas. Mas, mesmo assim, as pessoas
vão-se habituando a substituir o pão por outros produtos que, dizem, são mais
saudáveis.
Hoje, é tudo tão diferente. A vida
familiar vai-se modificando, gradualmente.
Lajes
do Pico:
19-10-2016
Ermelindo
Ávila
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