segunda-feira, 26 de outubro de 2015

COSTUMES ANTIGOS

A MINHA NOTA



Costumes ou tradições que vão desaparecendo com a adopção de outros sistemas de vida. E é pena porque eles traziam consigo, desde os primórdios tempos, maneiras diferentes mas que, em certa, medida facilitavam a vida das pessoas.
Em anos passados - quatro ou cinco dezenas já se contam – um dos dias do ano que as gentes do centro da ilha – norte e sul – se reuniam no Baldio praticamente comum, para a tosquia do gado ovelhum, era conhecido como o dia do arrodeio.
Durante o ano os rebanhos das ovelhas e dos carneiros pastavam despreocupadamente no Baldio comum às freguesias da Prainha e Lajes. Esses rebanhos eram pertença dos agricultores das duas freguesias. Pastavam juntos mas cada um dos animais tinha um sinal que os identificava e os donos, no dia um de Setembro de cada ano, reuniam-se para fazer a separação dos animais e igualmente aqueles com a que haviam nascido durante o ano e que não deixavam de acompanhar os pais. Aos cordeiros era-lhes então posto o sinal do proprietário e procedia-se à tosquia.
Amigos velhos que ali se encontravam todos os anos, faziam, por vezes, as refeições juntos e, acabado o repasto, davam inicio às chamarritas, pois havia sempre quem levasse uma viola.
Um dia festivo, embora de algum trabalho, e sobretudo de confraternização de velhos e novos. E, entre estes últimos, nascia por vezes o namoro que, normalmente, se tornava em união feliz. Conheci alguns desses casais.
As lãs recolhidas - pretas e brancas - eram aproveitadas para, depois de tecidas, delas se fazerem roupas de agasalho e meias para serem usadas nos trabalhos agrícolas, e não apenas. Aquela que tinha melhor qualidade era fiada e servia para o tear, que vários existiam.
Para os elementos do sexo masculino, faziam-se camisolas e meias. Parece que alguns usavam roupas interiores de lã, normalmente no Inverno.
As mulheres, quando em trabalhos agrícolas, usavam meias e saiotes também em lã.
Alguma lã era utilizada em mantas de agasalho, tecidas em tear doméstico pois, normalmente, havia em cada família uma tecedeira que quase só trabalhava no tear próprio.
Nos últimos anos, porém, apenas o Manuel Cravo, quando passou a residir nesta vila, trabalhava no seu tear, um instrumento muito antigo e que agora está arrecadado no Museu dos Baleeiros. Aqui nas Lajes o seu trabalho quase exclusivo, ao menos nos anos em que conheci, era o tecer “colchas da terra” e peças de tecido para vestuário, em lã. No entanto, havia quem enviasse a lã para a ilha de São Jorge, para lá ser tecida, pois sempre houve bons tecelões naquela ilha, principalmente nas Fajãs.
Arredado que estou da vida activa, nem sei o que actualmente se passa, com o trabalho das lãs. Julgo que pouca se colhe pois o gado lanígero praticamente desapareceu do Baldio, quando aqueles terrenos passaram à administração dos Serviços Florestais que os utiliza unicamente para apascentar gado bovino.
Os lavradores deixaram, praticamente, de criar gado lanígero e somente um ou outro daqueles animais é apascentado com o gado bovino. Dele é necessariamente retirada, anualmente, a lã com a qual se fazem as meias que eram utilizadas nos trabalhos agrícolas. Mas serão bem poucos, como poucos são nesta ilha os que, actualmente, aos trabalhos agrícolas se dedicam.
O primeiro de Setembro, dia do arrodeio, era um verdadeiro dia de festa, principalmente para as gentes das Lajes e Prainha do Norte.
Afinal, outros tempos, outros costumes.


Lajes do Pico, Setº 2015
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Ermelindo Ávila 

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