domingo, 18 de outubro de 2015

A CHAMARRITA

A minha nota


A Chamarrita – será chama a Rita?- ainda hoje é um dos bailhos mais característicos de cada ilha com coreografia própria. A chamarrita do Faial difere algo daquela que é dançada na ilha do Pico e até mesmo acontece que, de freguesia a freguesia há sempre diferença. Mas, no conjunto, trata-se de um bailho muito semelhante e até tradicional. Pena é que haja sido esquecido, como esquecidos ficaram os conhecidos “bailhos de roda”, de uma riqueza coreográfica que hoje nem sei se haverá quem seja capaz de os bailar.
A chamarrita era o bailho preferido nas festas familiares e até mesmo nos serões promovidos pelas sociedades recreativas. Os jovens, e até os de mais idade, deslocavam-se de terra em terra, da Silveira às Terras, quando sabiam de haver chamarritas ou bailhos.
E quando esses bailes se promoviam, havia convites aos tocadores de viola e aos cantadores. Cada ilha tinha viola de estilo diferente, cuja construção era executada por hábeis marceneiros -violeiros. E todos eles primavam por fazer instrumentos de boa sonoridade, quer violas, guitarras ou bandolins, pois os outros, normalmente eram importados.
Lembro aqui, alguns artistas além de outros, cujos nomes não registei: mestre Augusto Bemfeito, nas Ribeiras; o mestre Manuel José da Terceira e depois o José Joaquim Verónica e por último o Ramiro Brum Ávila, na Ribeira do Meio. Na Terra do Pão havia um grande artista, o Saca. Na realidade quase todas as freguesias tinham artistas de instrumentos de corda. Instrumentos tradicionais mas com características próprias em cada Ilha, pois se até havia a viola de “dois corações”!...
A extinta Junta Geral do antigo Distrito Autónomo da Horta, para perseverar o folclore das ilhas do Faial, Pico, Flores e Corvo criou uma Comissão de Recolha e Divulgação do Folclore do Distrito da Horta. Foi a essa Comissão que incumbiu a edição do trabalho de recolha dos “Bailhos, Rodas e Cantorias – Subsídios para o registo do folclore das ilhas do Faial, Pico, Flores e Corvo”, da autoria do professor Júlio de Andrade que produziu um excelente trabalho. Segundo o Dr. José da Silva Peixoto, em artigo publicado no extinto “Correio da Horta”, a 30 de Janeiro de 1996, aquando da comemoração do centenário de Júlio Andrade, o livro deve ter sido editado em 1948. Referindo-se à Folga, escreve o Autor a páginas 13: De ilha para ilha, e até mesmo entre freguesias da mesma ilha, os costumes do nosso povo, e neste caso os bailhos e as danças, por vezes são tão diferentes que, embora já notados por outros autores, mas apenas dando a letra ou a música, não resisti à tentação de estudar e pôr em livro o resultado de tal trabalho.
A chamarrita é o bailho mais tradicional e que, na verdade, animava as festas tradicionais. Faziam-se convites aos tocadores e cantadores, para que o brilho da dança não ficasse diminuído. O mandador dava início ao bailho, cantando normalmente: Chega pares, chega pares / chega pares ao terreiro / Chega raparigas novas / e rapazes solteiros. E quando algum cantador vinha atrasado botava logo esta cantiga ou outra semelhante: Ainda agora aqui cheguei / Mais cedo não pude vir / estive embalando os rapazes / que ficaram a dormir. E o baile continuava até que o mandador desse o sinal – olé! – para terminar.
Mas o bom cantador era normalmente um apreciado improvisador.
Consta que a chamarrita do Pico vai ser considerada Património Mundial. Folgo que isso aconteça pois será a maneira mais segura de salvaguardar um dos mais característicos elementos do folclore açoriano.
Pena é que não haja quem faça reviver os antigos bailhos de roda, de uma grande riqueza coreográfica e aos quais era tão agradável assistir.

Lajes do Pico,
2 de Outubro de 2015.

Ermelindo Ávila

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