segunda-feira, 14 de abril de 2014

NA PÁSCOA ESTAMOS

NOTAS DO MEU CANTINHO

A Quaresma está a findar. No próximo domingo, celebra a Igreja Católica o dia em que Jesus Cristo entrou triunfalmente em Jerusalém, depois haver jejuado quarenta dias no deserto.
Antigamente, o povo cristão denominava as domingas da Quaresma com títulos mal definidos e cujo significado não nos foi possível averiguar: Ana, Bagana, Rabeca, Susana, Lázaro, Ramos, na Páscoa estamos. Seja como for, os cristãos respeitavam o tempo quaresmal, com jejuns e abstinência de carnes; um tempo forte de penitência, preparatório para a Festa da Ressurreição. Era, sobretudo, o tempo da desobriga pascal: Confessar-se ao menos uma vez cada ano (Cânone 989) “ e receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada ano, se possível no tempo pascal...” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1319).
No primeiro domingo de Quaresma era tradicional a Procissão de Penitência, com as imagens do Bom Jesus, ou Senhor Jesus das Preces, como tradicionalmente é conhecida a imagem do Senhor Crucificado que, segundo a história, foi arrojada à praia desta vila aquando da reforma protestante da Inglaterra, por volta de 1550-1560 (1). De recordar também que foi em 1864 que, - no primeiro domingo de Quaresma que nesse ano ocorreu no dia 14 de Fevereiro, - saiu pela primeira vez a Filarmónica Lajense. (No corrente ano celebra 150 anos de existência.)
Na procissão de Penitência incorporava-se o andor duplo com Santo Elisiarco e Santa Delfina, (os bem-casados, dizia o povo) e o andor de S. Francisco de Assis. Terminada a procissão havia o Sermão de Calvário. Na Igreja armava-se um “calvário” em verdura de cedro, na Capela mor, onde era colocado um Crucifixo, e sobre o estrado de verdura as insígnias da Paixão do Senhor: a lança, o escadote, a corda. No terceiro domingo, realizava-se a procissão de Passos. Na vila existiam cinco passos, pertencentes à Misericórdia. Dois desapareceram na rua Direita, com as construções urbanas ali realizadas.
Nos outros domingos de Quaresma havia na igreja, à tarde, a Via-Sacra cantada e com a leitura de extensa “meditação”. A afluência de fiéis era sempre grande.
Durante a Quaresma não se realizavam divertimentos de quaisquer espécies. Quando muito, alguns grupos ensaiavam as “danças” dos pedreiros, dos arcos, ou dos cadarços, para saírem no domingo de Páscoa e/ou de Espírito Santo. Alguns homens faziam de mulher, pois era vedado ao elemento feminino tomar parte nestes divertimentos. Mas essas danças há muito caíram em desuso.
À Semana Santa, o povo chamava-lhe a ”semana dos nove dias”, porque fazia dias santos na parte da manhã da quinta-feira e da sexta-feira. Da quinta para a sexta-feira, o Santíssimo ficava exposto no trono e era “velado” toda a noite pelos irmãos da confraria do Santíssimo, que era numerosa, com as respectivas opas vermelhas.
Na Quinta-feira e na Sexta-feira, à noite, realizavam-se as Matinas, cantadas, usando a Capela partituras clássicas. Tinham grande afluência de fiéis. Nelas usava-se o candelabro, cujos círios eram apagados quando iam terminando os “nocturnos”.
O sábado era o grande dia para a rapaziada. Quando os sinos tocavam festivamente, a anunciar a Ressurreição, era a ocasião de estrear os piões novos, no meio de grande alegria.
Na igreja, por vezes, uma das filarmónicas, postada no coro alto, executava um passo - dobrado, após as campainhas tocarem depois do Glória. Os sinos repicavam, festivamente, e um dos turiferários distribuía pelos sacerdotes e elementos da capela, raminhos de flores, artisticamente arranjados pela florista D. Virgínia de Lacerda.
As amêndoas eram raras mas, nas mesas de pobres e remediados, porque ricos eram bem poucos, não faltava, no dia de Páscoa, o folar com um ovo para cada membro.
As festas pascais, no domingo, terminavam com a procissão da Ressurreição, pelas ruas da vila, acompanhada pela Filarmónica, seguindo-se a Missa solene. E, na Segunda-feira, considerada dia-santo, o Senhor era levado aos enfermos, em solene procissão.
Hoje a liturgia pascal está muito simplificada com as normas estabelecidas pelo Concílio Vaticano II.
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1) Silveira de Macedo, A.L. – História Quatro Ilhas..., Vol.I, 1871, pág.220.

Lajes do Pico, 7-4-2014
Ermelindo Ávila


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