segunda-feira, 14 de abril de 2014

BELAMENTE

A MINHA NOTA


Não foi jogo de muitos anos. No entanto, nos anos em que vigorou, era entusiasmante. É só lembrar que atingiu novos e velhos.
Quando os parceiros se encontravam a primeira vez no dia, o primeiro que esse “belamente” exclamasse, ganhava a aposta. E no fim da Quaresma, aquele que contasse mais apostas ganhava uma quantidade de amêndoas, bem poucas por vezes, pagas pelo que perdia.
E, no ano seguinte, lá estavam de novo a combinar o jogo. Mas não deixava de ser interessante assistir a certas manobras que, no princípio do dia, os parceiros faziam para ser o primeiro a descobrir o outro. Escondiam-se em saguões, nos cantos das ruas, em casas particulares, em qualquer sítio onde não fossem descobertos, para verem o parceiro contrário passar e, de surpresa, lhe dar o grito -chave: belamente!
Hoje, a Quaresma passa quase no esquecimento. A vida diária continua, infelizmente, cheia de preocupações de toda a ordem, e ninguém se lembra de jogar seja o que fôr, para passar o tempo, pois este não resta a ninguém, nem mesmo que, no fim da Quaresma é o tempo tradicional das amêndoas.
Nem as crianças, pois raramente aparece uma ou outra... E os velhos não estão para esses “cuidados”. Até mesmo porque os idosos estão recolhidos nos lares e, aqueles que “ainda se mexem”, não estão para dispersar o tempo que ainda lhes resta.
Uma vida que tão rapidamente mudou. Um mundo que se transforma dia-a-dia, quase sem proveito para ninguém.
Aflige assistir a este panorama macabro que, em poucos anos, nos atingiu.
Valem, por enquanto, as jornadas de futebol que a TV quase diariamente nos transmite, de quase todas as nações do mundo. Mas, ao que nos informam os noticiários televisivos, nem sempre o desporto rei corre bem. Mesmo agora que se disputa o chamado “mundial”, as coisas vão bem pelo Brasil, país organizador do certame.
Demais, o futebol deixou de ser um desporto, para ser uma indústria, concerteza bastante rendosa para os empresários e, igualmente, para os praticantes, poucos talvez.
E porque não voltar ao inofensivo, e algo divertido, belamente, que se jogava com entusiasmo, e quando se perdia, custava meia dúzia de amêndoas, ou pouco mais?
Apetece cantar aquela canção que tinha como estribilho: oh! tempo volta para trás...
Mas, infelizmente, o tempo não volta. Queiramos ou não, corre velozmente para o fim. E ele está bem próximo...

Lajes do Pico,
7 de Abril de 2014.

Ermelindo Ávila

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