terça-feira, 29 de abril de 2014

A ILHA DO PICO EM COLAPSO...

NOTAS DO MEU CANTINHO

Tal como as coisas vão correndo, pode afirmar-se que a Ilha do Pico viveu o seu período de maior desenvolvimento na primeira metade do século passado.
Apesar de algumas crises provocadas pelas duas grandes guerras mundiais (1914-18 e 1939-45) a economia da ilha recompôs-se em razão das actividades industriais que nela se instalaram e do comércio que, simultaneamente, se desenvolveu.
Na edição do “Jornal do Pico” de 10 do corrente mês, o seu dedicado e ilustre colaborador Francisco Medeiros, em oportuna crónica sobre “Cooperativas de Lacticínios da ilha do Pico” referia muito judiciosamente que “em 55, notava-se uma certa qualidade de vida das populações, que viviam com algum desafogo, pois os salários para a época, embora não fossem muito elevados, eram convidativos para os profissionais dos estaleiros, para as muitas mulheres e jovens empregados nas conserveiras. Hoje muitas daquelas que o fizeram beneficiam de uma pequena reforma que, como se sabe, não sendo muito larga, é uma ajuda no conjunto familiar.”
Estou plenamente de acordo com o ilustre articulista e já algumas vezes fiz referência à situação calamitosa em que, actualmente, vive a generalidade da população picoense, motivada pela “falência” de muitas actividades industriais e algumas comerciais.
De acentuar que a estabilidade económica, embora pareça um paradoxo, surgiu para estas bandas do Sul com a construção da muralha de defesa da vila das Lajes que havia sido derrubada pelo ciclone de Abril de 1936, e, a seguir com a construção da estrada Lajes - Piedade que, durante quatro anos (1939-1943) empregou, diariamente, mais de cem operários. Alguns deles vieram da Graciosa e de S. Miguel, e por cá ficaram.
O Pico desenvolveu o seu comércio e algumas empresas beneficiaram de um notável crescimento, como sejam: a Casa Ancora, no Cais do Pico, a firma Manuel Pereira do Amaral, na Madalena, e Edmundo Machado Ávila e Filhos, nas Lajes, além de outros estabelecimentos espalhados nas freguesias. Destes recordo o Francisco Rodrigues das Neves, na Candelária; os Gomes, na Ribeirinha; José Ávila de Melo, e António Pereira e Irmão, na Calheta; Francisco Soares Mariante e António Fernandes Ávila, em Santa Cruz; Manuel José Bernardo Riqueza e sobrinho, em S, João; Manuel Correia da Silva, em S. Caetano; Manuel José de Simas, em S. Mateus e tantos outros espalhados pela Ilha.
Em 1954, existiam no concelho das Lajes 11 fabriquetas de lacticínios, uma de conservas e uma de óleo de baleia, cinco moagens de cereais, l0 armações baleeiras e duas sociedades de navegação. Nos outros dois concelhos da ilha, existiam, igualmente, construtores navais, fabricantes de lacticínios e outras actividades industriais. Nesse ano, já havia no concelho cinco traineiras de pesca do atum. Mas o concelho chegou a possuir trinta e quatro traineiras.
Com o desaparecimento das fábricas a crise chegou. A população diminuiu, porque a emigração levou uma grande parte da juventude, e não somente.
A ilha do Pico ficou, praticamente, entregue à quase terceira geração.
Valeu, durante alguns anos, a indústria de lacticínios a cargo de Martins & Rebello. Mas também esta daqui saiu. Substituiu-a a Cooperativa da Lacto-Pico, presentemente em estado de falência. E somente nos resta o matadouro industrial e pouco mais.
Há que iniciar e incentivar novas actividades, que criem postos de trabalho e estimulem a juventude a permanecer na Ilha, para que esta não fique entregue à bicharada...
Daqui aplaudo o trabalho de Francisco Medeiros. Pena é que outros mais, dentro da mesma orientação social, não o apoiem. Importa que surja uma campanha estimulante a provocar o concreto e eficaz desenvolvimento da Ilha no seu todo, que não apenas numa parte limitada
No Pico há ainda, felizmente, quem não pode nem deve continuar no seu dolce fare niente.



Lajes do Pico,
Abril de 2014.
Ermelindo Ávila



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