NOTAS DO MEU CANTINHO
Praticamente
terminaram as festas de verão, se bem que, numa ou noutra paróquia, ainda se
realizem as festas dos Padroeiros, como são os casos de Piedade e São Mateus.
Festas de menor luzimento não deixam de atrair os naturais da freguesia que
vivem fora e que, anualmente, regressam ao torrão natal para tomar parte nas
celebrações. É um costume ou tradição que vem de longe e que se mantém, agora
que as comunicações são mais facilitadas, por terra, mar ou ar.
É sempre
agradável encontrar os nossos conterrâneos de volta à terra, a reviver os
cantinhos onde nasceram e foram criados.
Eles partiram um dia para conseguirem
melhor viver e um futuro mais próspero para os filhos. Mas não esquecem o
lugarzinho que lhes foi berço. Lá longe, não escrevem tanto como antigamente,
mas a TV e o telemóvel estão sempre ligados para saberem notícias dos seus e
novidades da terra. É, na realidade, uma aproximação mais simpática. E, até acompanham
com interesse as novidades da terra, através dos próprios jornais, embora as
notícias sociais, e disso se queixam, sejam raras ou quase inexistentes.
Mesmo assim,
os jornais são lidos e os artigos ou notícias de interesse recortados e
cuidadosamente guardados, até para deixarem aos filhos…
Alguns
emigrantes ainda aí estão para assistirem às festas das suas freguesias, que,
para eles, têm um interesse muito especial. É o que acontece, v. g., na
freguesia da Piedade, onde as festas da Padroeira e a de Nossa Senhora das Mercês,
esta festejada no fim de Setembro, são lembradas com enternecido amor, até
porque alguns desses visitantes há muito que cá não vinham e agora chegam saudosos
do seus e da própria terra-mãe.
São Mateus
vai celebrar a 21 de Setembro a festa do Padroeiro. Nesse dia cumpre o voto
feito em 1718-1720, quando as erupções vulcânicas atingiram Santa Luzia e,
depois, os locais onde deixaram, a testemunhar tamanhos cataclismos - os
“Mistérios”. São decorridos trezentos anos!
O voto é
representado pela distribuição de rosquilhas a todos os que ali vivem ou por
ali passam no dia de São Mateus. Houve até anos em que a Paróquia contribuía
com algumas “contas” de rosquilhas para que ninguém voltasse a casa sem levar
um “arrelique”. Afinal, um “império” idêntico aos que se realizam nas diversas
freguesias da Ilha, durante o tempo litúrgico do Pentecostes.
É caso para louvar o povo picoense
que será ainda hoje, se não erro na afirmativa, aquele onde o pão, nalguns
lugares também o vinho, são distribuídos a todos os forasteiros e aos doentes ou
impossibilitados de comparecer no arraial.
Vale a pena recordar estes
acontecimentos históricos que continuam a dar testemunho da crença e do
respeito pelos votos dos antepassados, que se cumprem com escrupuloso cuidado e
que são transmitidos de pais a filhos e a netos. E tal é o respeito por tão
antiga tradição que, presentemente, algumas festas recentes vão introduzindo prazenteiramente,
os tradicionais “impérios”.
Este povo do Pico é excepcional. Não
lhes evitem cumprir as honrosas tradições. Ajudem-nos quando as dificuldades
surjam para que a memória dos antepassados não caia no esquecimento.
Lajes do Pico, 29 de Agosto de 2017
Ermelindo Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário