NOTAS DO MEU CANTINHO
... e incompleta, porque não chegou a todos!
Infelizmente, é assim mesmo.
Quando se andou por aí a estudar o
Estatuto da Autonomia, uma das regras estabelecidas era que a Autonomia devia
chegar a todos os açorianos. Criou-se, mesmo, um slogan em que se estabelecia a
regra de desenvolvimento harmónico de
todas as parcelas do território autónomo.
Pretendia-se, afinal, com a autonomia,
dar aos açorianos, a todos os açorianos,
o direito de se governarem sem interferência de vizinhos ou estranhos às
respectivas localidades.
Mas isso não aconteceu. Mantiveram-se os serviços
públicos nas antigas capitais de distrito, numa hegemonia ainda mais atrofiante
do que existia, embora se centralizasse a sede do governo numa dessas cidades.
Pior ainda foi, dentro das próprias
ilhas, centralizarem-se os serviços, transferindo alguns ou criando novos,
diminuindo assim a estabilidade política das primeiras povoações. E fez-se isso
com uma naturalidade e insensatez até então praticamente desconhecida. Mas o
pior é que o sistema continua. Pretendem ignorar que essas drásticas medidas
obrigam à deslocação de funcionários e respectivas famílias para as localidades
de fixação, ao engrossamento das respectivas populações e ao despovoamento de
outras e consequente atrofiamento económico e social.
Com o despovoamento desce o número de
votantes e as terras deixam de ser ouvidas nos centros de decisão, como seria
natural.
Os poucos jovens que existem vão
caminhando para os locais onde encontram trabalho e as populações vão
vertiginosamente envelhecendo, as terras, por vezes as mais férteis, vão
ficando abandonadas e uma vegetação selvagem vai-se dela apossando, sem
proveito, a não ser de algum estrangeiro que as descobre e as adquire para nela
se estabelecer nas época de estio ou repouso.
Com a saída (abandono) dos homens
válidos, desapareceram os artistas das diversas profissões: pedreiros,
carpinteiro, ferreiros e funileiros, pintores e artesãos, sapateiros e
alfaiates que outrora existiam em abundância e não lhes faltava trabalho em
cada uma das respectivas profissões ou artes.
Fecharam os pequenos estabelecimentos
de fazendas e mercearias, o comércio familiar, como agora se diz. E havia-os em
todas as freguesias. Na vila das Lajes havia mais de meia dúzia desses pequenos
estabelecimentos de mercearia, onde,
aliás, de tudo se vendia: desde a cal para as caiações dos prédios até aos
géneros de consumo doméstico.
As duas padarias existentes no concelho
foram criadas, há algumas dezenas de anos, pelas próprias famílias. Hoje isso
não seria possível pelas exigências burocráticas que, incompreensivelmente
(julgo), se estão a pôr em prática, dificultando somente a criação de pequenas
actividades industriais ou familiares, indispensáveis à manutenção dos
respectivos agregados.
A caça à baleia, praticada desde há dezenas
de anos na Vila das Lajes, foi proibida. Encerrou drasticamente a fábrica de
conservas de peixe. Desviaram-se as traineiras e cessou o seu fabrico nos estaleiros
locais, que também desapareceram. Daí resultou a emigração, não apenas de
jovens mas de famílias inteiras. Às dúzias!...
Vila das Lajes do Pico,
28 de Março de 2017
Ermelindo Ávila
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