CRÓNICAS
DO MEU SENTIR
Vamos
a meio do Inverno. As colheitas já se fizeram e, nas casas da
lavoura, principalmente, prepara-se o ano novo. Toda a gente está
voltada para a grande tarefa de preparar e arrumar os cereais,
principalmente o milho, que vai constituir a grande parte da
alimentação das famílias agrícolas. Uma tarefa exaustiva que
ocupa a maior parte da estação outonal. Já ficou para trás, mas é
saboroso lembrá-la nestes últimos meses do ano, pois nem todos se
apercebem do valor económico que representa, para a família
agrícola, o colher e armazenar esse precioso cereal que bem recente
é na mesa da família agrícola (repete-se).
Não
é intenção referir a idade do milho que aqui apareceu já depois
destas ilhas do Atlântico andarem povoadas. Deixo isso para o grande
escritor português, Júlio Dinis que tão bem soube descrever, no
seu excelente livro de crónicas – A Esfolhada – os trabalhos de
recolha e desfolha do milho em casa do lavrador. Aliás, este sistema
de recolha, esfolhada ou desfolhada e armazenamento é muito
semelhante, ou quase, ao que por estas ilhas, na generalidade, se
pratica. Mas vale a pena recordar.
O
dia da “apanha” era, na realidade um dia festivo, com refeições
melhoradas, por vezes confeccionadas na própria propriedade, se nela
havia casa de recolha. De contrário tudo acontecia na residência do
proprietário.
Cada
acto da desfolhada era um motivo de festa. No prédio produtor,
arrumam-se as maçarocas para os carros de bois, depois de
devidamente empilhadas e enfeitadas com arcos de verdura em sinal de
festa. Os carros, em cortejo, se são dois ou mais, caminham
(caminhavam) em fila, ao som do “guinchar” dos eixos. Hoje já
isso não acontece. O chiar dos carros deixou de ser permitido,
quando um surto de febres assolou a vila nos anos Vinte. Então, o
administrador do concelho obrigou-se a publicar editais proibindo o
chiar dos carros. Para o evitar, passaram a usar sabão azul em
substituição do cebo, como era usual.
À
chegada a casa havia sempre recepção festiva. Os acompanhantes eram
normalmente “brindados” com aguardente e licores e figos passados
e doces. Nas noites seguintes, tinham lugar as “esfolhadas”, já
relatadas em notas anteriores.
Hoje,
praticamente, não há desfolhadas. Passando por esses campos
encontram-se relvados transformados, somente, em campos de silagem.
Os gados desapareceram e os poucos que existem parece que estão
destinados à exportação. Daí que a indústria de lacticínios
esteja, praticamente, a desaparecer. Até quando? Não estará aí a
crise da lavoura, que muitos anunciam?
Vila
das Lajes,
Fev-2018
E.
Ávila
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