NOTAS DO MEU CANTINHO
No passado domingo realizou-se na
Paróquia da Santíssima Trindade, sede da antiga Ouvidoria das Lajes do Pico, a
tradicional Procissão do Senhor dos Passos. Um acto litúrgico que vem de longa
época que é sempre feita com ordem, respeito e solenidade. O mesmo aconteceu
realçando-se a comparência da Irmandade da Santa Casa, promotora daquele acto
litúrgico, o único que, presentemente, assinala externamente o Tempo de
Quaresma.
A Santa Casa da Misericórdia da Vila
das Lajes é actualmente a instituição sócio-religiosa mais antiga da Ilha. Foi
fundada por Alvará régio de 14 de Novembro de 1592 . E diz o Alvará que o
Provedor e Irmãos da Confraria “gozem e
usem de todos as liberdades e privilégios e liberdades de que gozam e usam
(...) o provedor e irmãos da confraria da misericórdia da cidade d´Angra da
ilha Terceira e da ilha do Faial e isto naquelas coisas que se poderem aplicar
à dita confraria da ilha do Pico...”.
As Misericórdias de São Roque e Madalena
são de recente fundação. Esta última foi fundada recentemente por Jacinto Ramos
e outros, para aproveitar o legado de Terra Pinheiro e construir o antigamente
classificado “hospital sub-regional” . A de São Roque teve a mesma finalidade.
S. Roque construiu o hospital “Rainha Santa Isabel” primeiro que os outros. O
das Lajes, apesar dos respectivos estatutos da Santa Casa preverem a construção
de um hospital, este só veio a ser inaugurado em l de Janeiro de 1960 por
dificuldades na aquisição do terreno onde foi implantado. Mesmo assim o
projecto que lhe fora destinado pela Comissão de Construções Hospitalares e que
foi cedido à Madalena, teve de ser novamente elaborado por aquela Comissão.
Para a
construção do hospital o Barão de Castelo de Paiva concedeu, em 10 de Janeiro
de 1874, duas inscrições com o valor nominal de 500$000 (reis). Mas essas
também desapareceram...
Frei Diogo das
Chagas no seu valioso “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores,” relata
que a Santa Casa, em 1641, possuía uma casa que se encontrava em ruínas já no
ano de 1718, quando se deram as primeiras erupções vulcânicas na Ilha do Pico.
E Lacerda Machado, em artigo publicado no antigo jornal “As Lages”, escreve que
a Misericórdia possuía um templo de duas naves, construído, por voto do povo,
aquando daquelas erupções, sendo destruído em 1868 e mais tarde demolido para
utilizarem os materiais na construção da Igreja Matriz. O local onde fora
construído foi arrematado.
Segundo constava dos livros da contabilidade da
Misericórdia das Lajes, incompreensivelmente desaparecidos, a instituição
limitava a sua actividade a fazer empréstimos a pobres, a distribuir pensões de
invalidez e a realizar as solenidades de Passos e Calvário.
Os
irmãos usavam nas cerimónias litúrgicas balandrau preto. O provedor empunhava
nos actos públicos uma vara de metal prateada e nas procissões e funerais dos
irmãos era levada a bandeira respectiva: um quadro hasteado numa vara e com
pinturas em tela nas duas faces. Mas também estas insígnias desapareceram, e
não há muitas dezenas de anos.
Apreciei que a Santa Casa voltasse a dispor de
bandeira e o provedor de vara e irmãos de balandrau. As senhoras que pelos
novos estatutos podem inscrever-se como irmãs, usam opas pretas.
Já isso escrevi em outra ocasião(1),
mas não fica mal repetir...
1)Ávila,
Ermelindo. Figuras & Factos. Vol
1
Vila
das Lajes-
15-Março-2016
Ermelindo
Ávila
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