NOTAS DO MEU CANTINHO
Foi, na realidade, um verdadeiro
acontecimento histórico a primeira Viagem da Virgem Peregrina de Fátima à
Diocese de Angra e Ilhas dos Açores.
Quem compulsar a Imprensa dessa época
poderá ficar com uma ideia, aliás sucinta, do que foi a visita da Virgem de
Fátima na sua Imagem Peregrina. O jornal local “O Dever” dedicou-lhe uma
minuciosa e extensa reportagem, pois tratou-se, na realidade, de autêntico
acontecimento histórico que não mais se repetiu nas visitas posteriores.
A Imagem Peregrina percorreu todas as
ilhas e a maioria das Paróquias e a todas não foi, porque os meios de
comunicação eram ainda bastante limitados. Não havia transportes aéreos e a
passagem de uma para outra ilha quase se fez somente no antigo iate
“Ribeirense” que, para o efeito, se transformou condignamente.
A ilha do Pico foi visitada nos dias 27
a 29 de Junho de 1948, quase setenta anos são decorridos. Nesse ano não se
realizou a festa de São Pedro.
Acompanhou a Veneranda Imagem o Bispo
da Diocese, D. Guilherme Augusto, a Comissão Diocesana, e também a Comissão
Nacional.
A Imagem peregrina chegou a esta Vila na tarde
do dia 28 de Junho e recolheu à Igreja do Convento de S. Francisco. Ao
anoitecer, realizou-se uma grandiosa procissão de velas, presidida pelo Bispo de
Angra. Era quase meia-noite, quando regressou a São Francisco. O Bispo, aflito
com sede (era um diabético), abandonou a procissão e correu para a Igreja a fim
de beber alguma água, pois, daí a minutos quebraria o jejum e já não poderia
celebrar no dia seguinte. Mas, felizmente, tudo correu pelo melhor (o Concílio
Vaticano II ainda não estava em vigor…).
Durante a noite, numerosos fiéis
estiveram em vigília na Igreja a acompanhar a Veneranda Imagem. Entretanto os
membros das Comissões foram recebidos em diversas habitações lajenses, onde
pernoitaram. (Na nossa casa ficaram os meus antigos condiscípulos, Dr. Moreira
Candelária e Pe. Artur Medeiros Paiva).
A Vila encontrava-se toda engalanada,
como jamais foi possível fazer. Em frente da Matriz em construção, a Câmara
Municipal, de que era Presidente ao tempo o professor João Pereira Maciel,
mandou erguer um monumental altar coberto, para a realização da Missa Campal
que, celebrada por Dom Guilherme, teve início no começo do dia. No Largo, uma
multidão de pessoas vindas das diversas freguesias do concelho, assistiu à
celebração. A Veneranda Imagem chegou ao altar vinda em procissão e acompanhada
de centenas ou milhares de devotos.
Celebrada a Missa, Dom Guilherme usou da
palavra para recordar a memória do antigo ouvidor, P. José Vieira Soares,
falecido poucos meses antes e que, se fosse vivo, completaria naquele dia (29
de Junho) setenta anos de idade. Sobre a fala de Dom Guilherme escreve “O
Dever”: O Venerando Prelado não podia
deixar debandar aquela gente, que a maior parte de tão longe viera, sem uma
palavra: e falou-lhes... Saudou a todos, e a todos louvou pelos esforços,
canseiras, sacrifícios que hão despendido, naqueles dias abençoados. Louvou, ainda,
os lajenses pelas ornamentações da sua Vila, lindamente preparada para receber
a Virgem. A todos pediu que vivessem sempre a fé daquela hora, velassem pela
educação dos seus filhos e fossem fiéis ao chamamento da graça.
A seguir o P.
Filipe Madruga, que estava a exercer as funções de Pároco da Matriz das Lajes,
em nome da Paróquia, colocou na Veneranda Imagem um cordão de ouro com
crucifixo no qual estava gravado: Lajes
do Pico, Açores.
Antes de sair das Lajes D. Guilherme
permitiu que a Veneranda imagem da Virgem descesse ao Porto, cujas embarcações
estavam todas engalanadas, velas subidas, arpões em guarda de honra. Linda a
homenagem dos baleeiros!
Na viagem para a Madalena a fim de
seguir para o Faial, a Imagem Peregrina tomou lugar num pequeno trono armado
num carro – andor. Foi-me permitido e a outros acompanhar a Senhora. Quando
passávamos na Terra do Pão, o carro fez um desvio para a terra e fez com que um
ferro colocado numa das casas, creio para suporte de um candeeiro, me atingisse
e levasse ao chão da carrinha. Felizmente sem quaisquer consequências, graças à
Senhora!
A Veneranda Imagem da Virgem Peregrina já
voltou à Ilha do Pico (e consequentemente aos Açores) outras duas vezes mas,
infelizmente, nenhuma outra se revestiu do entusiasmo e esplendor da primeira
visita. Ignoro a razão desse afrouxamento.
Lajes
do Pico,
1
de Fervº de 2017.
Ermelindo
Ávila
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