quinta-feira, 15 de maio de 2014

AS FOLIAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


Não é depreciativo o título. Traz-nos à lembrança a época festiva que se seguia à Ressurreição. Era a entrada nas chamadas Domingas ou sejam os domingos que antecediam o Pentecostes, isto é, cinquenta dias após a Páscoa, dia que os Judeus solenizavam, pois tratava-se da festa das searas. Para os cristãos, a celebração do Pentecostes, na Liturgia da Igreja Católica, recorda aquele dia em que os Apóstolos, reunidos no Cenáculo, aquela sala onde Cristo celebrou com os Doze a última ceia e instituiu o Sacramento da Eucaristia, receberam o Espírito Santo.
Os Actos dos Apóstolos assim narram o grande Acontecimento:
Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram, então, aparecer uma línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.
Ao contrário do que muitos julgam, a Coroa não representa a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pois, só em dois momentos, apareceu o Espírito Santo. A primeira, quando Jesus Cristo estava a ser baptizado por João Baptista. Nesse momento, uma voz vinda do Céu proclamou: Este é o “Meu Filho Muito Amado” e o Espírito Santo, em forma de pomba, desceu sobre Jesus Cristo.(São Mateus 4,16) Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que os céus se lhe abriram e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do céu dizia: “Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus toda a Minha complacência”.
A coroa está presente nas solenidades dedicadas ao Espírito Santo, a recordar aquele gesto brilhante da Rainha Santa que, retirando a coroa da cabeça, a colocou na cabeça dos pobres seus convivas.
No centro da coroa e no cruzamento dos arcos, está uma pequena pomba a recordar aquela que apareceu no Baptismo de Jesus Cristo, no rio Jordão. No estandarte, encontram-se “línguas de fogo”, a recordar aquelas outras que, no dia de Pentecostes, poisaram sobre as cabeças dos Apóstolos.
E não se duvida que, de facto, seja o Espírito Santo, em forma de línguas de fogo, que iluminou os cérebros dos Apóstolos, pois continuam a narrar os Actos dos Apóstolos: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito inspirava que se exprimissem.”
E descrevendo a prédica de Pedro à multidão que naqueles dias estava em Jerusalém, concluem os Actos: “Os que aceitaram a Sua palavra receberam o baptismo, e naquele dia juntaram-se aos crentes cerca de três mil almas.”
Cedo, nas ilhas açorianas, começaram a invocar o Espírito Santo nas horas de angústia e sofrimento.
“As folias do Espírito Santo, conquanto pareçam ter tido uma origem pagã, foram introduzidas em Portugal e nas ilhas dos Açores com a maior devoção e piedade.”
“Os primeiros impérios do Espírito Santo, com as suas populares folias, tiveram princípio na vila de Alenquer, sendo seus fundadores a Rainha Santa Isabel e El-Rei D. Dinis.”
No ano de 1523, desenvolveu-se na ilha de São Miguel uma desoladora peste que ocasionou 2.000 vítimas e se comunicou ao Faial no mês de Julho. O pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados recorreram a preces publicas, procissões e invocaram em especial o Espírito Santo, prometendo distribuir pelos pobres, anualmente, pela festa do Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem ao terrível flagelo, que se não comunicou ao Pico.
Instituíram-se irmandades em honra do Espírito Santo, celebrando em seu louvor bodos solenes, com folias e bailes, ao uso do tempo.
Tal foi a origem, no Faial e no Pico, das populares festas do Espírito Santo,...”(1)
E terminada a Páscoa, principiam a “domingas” do Espírito Santo. Os convites já se vão fazendo.
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(1) Lacerda Machado,F.S. – Historia do Concelho das Lages, 1936, pág.127.


Lajes do Pico, Abril de 2014.
Ermelindo Ávila


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