sábado, 28 de novembro de 2009

Uma lenda

Vão passando ao esquecimento as lendas e os contos que os antigos tinham por hábito contar aos mais novos, aos serões das noites invernosas.

Alguns ficaram na memória outros passaram ao esquecimento.

Excelente trabalho empreendeu a Doutora Ângela Furtado - Brum, ao recolher por estas ilhas as “Lendas e Outras Histórias” que publicou há anos e cuja 2ª edição, já vem de 1999. Afinal um valioso trabalho que regista narrativas populares, sobretudo lendas diversas recolhidas em todas as Ilhas dos Açores.

A Ilha do Pico, donde é natural a ilustre Autora, mais propriamente da Calheta de Nesquim, está representada no importante trabalho com 29 lendas.

Uma dessas histórias populares refere-se à ermida de Santa Catarina de Alexandria das Lajes do Pico; lenda que há séculos anda na tradição popular.

A ermida, que ainda existe no primitivo local, está situada no promontório entre o subúrbio da Ribeira do Meio e a Vila das Lajes, numa propriedade que pertenceu ao antigo morgado Manuel Cardoso Machado Bettencourt, por herança de seus antepassados e que nem sempre andou na posse de seus ascendentes pois, promovida pela Paróquia, nos finais do século XVIII, uma demanda andou na barra do Tribunal Judicial da Ilha, só não sendo decidida a favor da Autor por razões que não convém trazer a esta nota. Os últimos proprietários, num gesto louvável, legaram recentemente a ermida e casa anexa à Paróquia da Santíssima Trindade da Vila das Lajes.

Todavia, desde há muito que é ali se realiza a festa da Titular, cuja imagem é de grande devoção, principalmente dos povos de São João, Lajes e Santa Bárbara, pois Santa Catarina é considerada a protectora do juízo.

No dia da sua Memória é celebrada Missa cantada na Ermida, com larga concorrência de devotos. Muitos vão ali pagar promessas. Entre estas aparecem algumas figuras de massa sovada representando cabeças de pessoas.

Mas a lenda, segundo a Doutora Ângela Brum, reza assim:

Há muitos anos atrás andavam uns pescadores ma Ponta da Prainha do Galeão, quando viram uma bonita \imagem de Santa Catarina que tinha sido trazida pelo mar. – As pessoas juntaram-se e alguém disse que a trouxessem para as Lajes, para a igreja mais imponente dos arredores. A igreja do convento dos Franciscanos. Assim aconteceu. Mas no dia seguinte, quando os frades se aproximaram do altar para contemplar a santa, já não a viram ali. Vieram a saber que ela, sem ninguém lhe ter tocado, tinha ido outra vez parar à Ponta da Prainha . Voltaram a levar Santa Catarina de volta para a Vila das Lajes. - Este vai e vem repetiu-se várias vezes até que as pessoas começaram a dizer que Santa Catarina

queria ficar perto de São Caetano. Não querendo os das Lajes separar-se da imagem, decidiram construir uma pequena ermida onde a santa pudesse, ao menos, ver a freguesia do Pico que tinha escolhido para morada - Assim se fez .Num terreno mais alto, sobranceiro ao centro da vila das Lajes, mesmo por cima da lindíssima costa com o nome de Lajedo ergueram a pequena ermida e como sua padroeira ficou Santa Catarina. –(...) – Mas o altar ficava no interior, sem qualquer vista para a rua e a santa ainda não estava satisfeita e, por isso, continuou a fugir para a Prainha. - (...)- Alguém, então, se abrissem uma Janelinha voltada para os lados da Prainha lembrou que talvez Santa Catarina descansasse.”

A janela ou fresta foi feita e lá está permitindo ver-se dali a Ponta da Prainha. E Santa Catarina não mais abandonou o seu altar. Lenda? Uma coisa é certa: a ermida lá se encontra com a imagem de Santa Catarina e a devoção à milagrosa santa não mais terminou.

No dia 25 é a festa da Padroeira. Ainda me lembro de, na véspera à noite, se fazer uma iluminação, lá no alto, com rocas de pinheiro, que tinha um bonito efeito e que os lajenses muito admiravam.

Outros tempos!...

Vila das Lajes, 22/ ll /2009

Ermelindo Ávila

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