quinta-feira, 29 de outubro de 2009

BIBLIOTECAS

Estão a terminar, no corrente ano, as visitas às Baleias. Não sei quantos foram os visitantes, pois não tive oportunidade de investigar junto dos respectivos armadores, se isso permitissem, quantos foram aqueles que, aproveitando a frota local, foram junto dos cetáceos que abundam na baía das Lajes. Mas, a julgar pelo movimento diário que se observava no porto das Lajes do Pico, devem ter atingido alguns milhares.

É uma nova modalidade de turismo que está a valorizar esta terra, há cerca de duas dezenas de anos. Aliás um turismo com força cultural e que vem reforçar o ambiente que se vive desde há muito por esta ilha picoense.

E já agora convém recordar: A Vila das Lajes possui alguns estabelecimentos de leitura importantes pelo seu recheio e pelo número de obras que neles se consultam.

E principiemos pela Escola Secundária cuja biblioteca já atingiu cerca de 6.700 exemplares.

O Museu dos Baleeiros, nas Lajes do Pico, possui uma biblioteca especializada com algumas centenas de exemplares de obras clássicas, nacionais e estrangeiras.

A Biblioteca Municipal é bastante antiga e conta com cerca de 10 mil volumes. Mas tem uma história que vale a pena recordar.

Entre 1874 e 1879 andou por Coimbra a estudar Teologia aquele que , depois, seria Bisco de Macau, Dom João Paulino de Azevedo e Castro. Durante esses anos conseguiu recolher, nos alfarrabistas, algumas centenas de livros que enviou para a Vila das Lajes, sua terra natal, ao irmão Manuel Joaquim de Azevedo e Castro. Este, amante da leitura, havia solicitado a alguns cavalheiros a sua colaboração no sentido de fundar um Gabinete de Leitura. E foi para este gabinete que o irmão João enviou os “centos de livros” que havia recolhido. A Câmara Municipal de então concedeu ao Gabinete o subsídio de 18$000.

O Gabinete funcionou com regularidade durante vários anos até que, em 28 de Outubro de 1895, foi fundado o “Grémio Literário Lajense”, instituição de recreio, para o qual transitou o espólio do Gabinete. (Por exigências legais da Ditadura, o Grémio teve de alterar a denominação para Sociedade Literária e Recreativa Lajense, já nos anos quarenta do século 20.

A biblioteca do Grémio foi passando de instituição para instituição, chegando a nossos dias já bastante diminuída. Essa circunstância levou um pequeno grupo de jovens lajenses, na década de trinta, a fundar a Biblioteca Popular Lajense que, para garantia da sua existência viria a ser entregue, nos princípios dos anos quarenta, à Câmara Municipal das Lajes do Pico.

Actualmente denomina-se Biblioteca Municipal Dias de Melo em homenagem ao escritor picoense, recentemente falecido. Possui uma existência superior a dez mil exemplares. Dela faz parte uma biblioteca infantil, muito frequentada.

Em formação e contando já algumas centenas de exemplares existem os núcleos do Posto de Turismo Municipal, ao Castelo, e o Centro de Ciências do Mar, na antiga SIBIL.

Além das indicadas, encontram-se na vila das Lajes algumas pequenas bibliotecas particulares que acrescentam uma nota de verdadeira cultura ao velho e secular burgo.

Na Madalena, existe uma Biblioteca Municipal, fundada com os restos da biblioteca do escritor Nunes da Rosa, mas agora bastante enriquecida com mais de 15.000 volumes da biblioteca particular do falecido Dr. Lopes Correia e que o Filho, num gesto altruísta, acaba de doar ao Município da sua terra. Fica assim a Vila da Madalena a possuir uma das maiores bibliotecas picoenses.

Em S. Roque do Pico um grupo de cavalheiros, tendo à cabeça o notável João Bento de Lima, criou o Gabinete de Leitura Marques de Pombal, inaugurado em 8 de Maio de 1882.

A nossos dias pouco ou nada chegou da antiga biblioteca. No final do século XX, a Família do malogrado Poeta Almeida Firmino entendeu entregar à Câmara Municipal de São Roque a biblioteca do Poeta. Hoje a instituição possui mais de 3.600 volumes e está devidamente instalada, em edifício próprio.

Afinal um ambiente cultural que importa perseverar com cuidado e esmero pois só valoriza e em muitos aspectos a terra picoense.

Vila das Lajes, 24/Set./2009

Ermelindo Ávila

terça-feira, 20 de outubro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

E O PORTO DAS LAJES DO PICO?

O Porto das Lajes tem óptimas condições naturais para ali se construir um porto de abrigo. Basta fechar o “Poção”, a Sul e aprofundar o meio da nova lagoa retirando-lhe a rocha que impede as embarcações de circularem livremente, sem necessidade de ali se “implantar” uma boa a sinalizar o cabeço submerso.

No principio do corrente ano tive ocasião de trazer a estas colunas o momentoso problema das obras do porto das Lajes. Estava em conclusão o molhe de defesa construído na zona da antiga Carreira” e chamava a atenção para a necessidade de se manter o troço de ligação do muro do caneiro ao novo molhe.

O ano está quase no fim, o inverno está a chegar e nada se fez para que o muro de ligação do caneiro ao molhe exterior fosse uma realidade. O que resta do antigo passadouro o mar vai-se encarregando de destruir. E é pena, pois podia ter sido o alicerce do futuro muro de ligação e resguardo do Poção.

Todavia o pior que podia acontecer foi a forma aligeirada como se construiu o molhe, se é que isso representa, por um montão de blocos de cimento, sem qualquer ligação que o segure, permitindo que as ondas de Oeste se encarreguem de os mover a seu belo prazer.

Não será tempo de se olhar com mais cuidado para as obras marítimas – e não só – que se realizam no porto das Lajes? (E até no concelho, segundo as notícias que nos chegam do porto da Manhenha).

O Porto das Lajes tem óptimas condições naturais para ali se construir um porto de abrigo. Basta fechar o “Poção”, a Sul e aprofundar o meio da nova lagoa retirando-lhe a rocha que impede as embarcações de circularem livremente, sem necessidade de ali se “implantar” uma boa a sinalizar o cabeço submerso.

E quando isso acontecer, podem transferir-se para o “Poção” as amaras das embarcações de recreio – não lhe querem chamar marina - que demandam o porto e que mais seriam se espaço houvesse para ali permanecerem durante o tempo de descanso dos respectivos tripulantes.

Por outro lado permitia-se uma mais ampla e segura movimentação das embarcações destinadas ao Whale-Watching, pois o porto das Lajes é hoje o principal centro de observação de baleias, e igualmente das embarcações de pesca.

E aqui trazendo as embarcações de pesca, que já são várias, importa considerar não só as casas de aprestos como acontece em porto de diminuto tráfego, mas ainda um edifício capaz para a Lota, evitando-se as viagens diárias, de ida e volta, do pescado que para ser consumido nesta vila, tem de fazer um percurso de setenta quilómetros! Uma modernice só justificável para movimentar e dar importância a sítios que o não têm.

Quando da construção da muralha de defesa da Lagoa, derrubada pelo ciclone de 1936, o então director das Obras Públicas, Eng.º Angelo Corbal Hernandez, não só procedeu à regulamentação do piso do muro de acesso ao caneiro como, neste local, construiu uma grande plataforma, deixando, do lado do Poção, tudo preparado para a construção de escadarias, que serviriam o tráfego de pessoas, quando aquela zona estivesse devidamente protegida. E tudo lá está à espera de ser utilizado, embora mais de setenta anos hajam decorrido!...

Agora era a ocasião aprazada para se dar execução ao projecto do notável Engenheiro, beneficiando-se a vila das Lajes com uma estrutura capaz de contribuir satisfatória e plausivelmente para o seu desenvolvimento e progresso.

Quem terá a coragem de se voltar para a Vila das Lajes e encontrar a solução devida e merecida para tão momentoso problema?

Fica o apelo.

Vila das Lajes do Pico, 19 de Setembro de 2009

Ermelindo Ávila

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

HORAS TRÁGICAS

Não é possível trazer todos os pormenores dos cataclismos ocorridos no Pico nos anos de 1718 e 1720 que atingiram, principalmente, as freguesias de Santa Luzia e de São João, levando D. João V a decretar a transferência de quarenta casais para o Sul do Brasil
____________________________________
Várias vezes tenho referido o assunto. Nunca é demais lembrar as horas trágicas que os picoenses hão sofrido ao redor dos tempos.
O mês de Setembro não deixou saudades aos picoenses. Grandes e funestas erupções vulcânicas assolaram a ilha, causando a desolação, a morte e a destruição de freguesias e haveres de muitos picoenses.
A um simples arrazoado não é possível trazer todos os pormenores dos cataclismos ocorridos no Pico nos anos de 1718 e 1720 que atingiram, principalmente, as freguesias de Santa Luzia e de São João, levando D. João V a decretar a transferência de quarenta casais para o Sul do Brasil. E lá estão no Estado de Santa Catarina os descendentes desses picoenses que nunca esqueceram a terra-mater, ainda hoje bem presente nos hábitos e costumes, na cozinha e nas festas tradicionais e até nas próprias embarcações – uma cópia autêntica das velhas e históricas canoas baleeiras.
Dos sismos do século XVIII ficaram os mistérios, que hoje são extensas matas de arvoredo bravio.
Convém, no entanto, recordar o que se encontra registado numa memória arquivada no livro de tombo da Igreja Matriz das Lajes, que Silveira de Macedo transcreveu na sua obra, “História das Quatro Ilhas...”, livro há muito desaparecido: “No dia 1º de Fevereiro de 1718 tremeu a terra em horríveis convulsões, e abriram quatro bocas na montanha do Pico entre as freguesias de Santa Luzia e Bandeiras”. Foi nessa ocasião que os lajenses se lembraram de fundar a sua Igreja da Misericórdia, cuja irmandade existia nesta vila desde remota antiguidade.
A segunda crise deu-se em 1720, entre Prainha e São João e esta freguesia e a da Santíssima Trindade. O Povo foi obrigado a evacuar a freguesia fixando-se, principalmente, no sítio da Almagreira, da última freguesia. A freguesia de São João Baptista ficou completamente arrasada. Um pequeno monumento assinala o local onde se supõe ter existido a antiga igreja. Serenada a crise, a população voltou à freguesia, instalando-se nas casas que restavam e passando a exercer o culto na antiga capela de Santo António, na Ponta Rasa, recentemente restaurada pela actual família proprietária.
Na noite de 9 para 10 de Julho de 1757 um violento terramoto atingiu a freguesia da Piedade, destruindo a respectiva igreja paroquial e outras habitações e fazendo doze vítimas. O mesmo terramoto fez grandes estragos na ilha de S. Jorge, vitimando 1.034 pessoas nos concelhos da Calheta e Topo.
A actual igreja da Piedade, que estava concluída oito anos após o sismo, é um dos mais valiosos templos da ilha. Foi, recentemente, restaurada na sua primitiva traça o que bastante a valorizou. O “magnifico templo, que é um dos maiores da ilha, nada sofreu com o sismo de 1926...tem de comprimento 42 metros e 16 de largura, possui um bonito frontispício em pedra lavrada e uma só torre”. E o Prof. Ávila Coelho na sua monografia “A Freguesia de N. Senhora da Piedade na Ilha do Pico” (Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Vol. 2, nº 3, 1961), escreve que aquela igreja possuía um admirável conjunto de imagens, entre elas a da Padroeira. Estas imagens devem vir do tempo da construção do templo uma vez que as que existiam na anterior igreja ficaram totalmente destruídas. (Pena é que a Imagem da Padroeira, embora restaurada na pintura somente, não tivesse sido conservada ao culto.)
A 23 de Novembro de 1973, um novo sismo foi sentido no Pico, fazendo muitos estragos em S. Mateus, o que obrigou uma parte da população a refugiar-se na vila das Lajes, onde foram carinhosamente recebidos.
Mais destruidor foi o sismo de 9 de Julho de 1998 que danificou, grandemente, diversas igrejas e algumas centenas de habitações da Ilha, o que obrigou ao dispêndio de avultadas quantias, quer dos Serviços públicos quer dos próprios proprietários. E por aí ainda se encontram alguns prédios arruinados e sem possibilidade de restauro o que não deixa de ser agravante para o aspecto urbanístico da própria ilha.
A freguesia de São Mateus celebra, no dia 21, a festa do Padroeiro. Nesse dia, e segundo a tradição, cumpre o voto de distribuir vésperas (rosquilhas) em gesto de gratidão, pelos vulcões de 1718 e 1720 não terem atingido a freguesia.

Vila das Lajes,
Setembro de 2009
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NA FREGUESIA DA PIEDADE: A FESTA DA PADROEIRA

O Pe. Francisco Soares era um excelente músico e regente de capela. Por onde passava, organizava as respectivas capelas paroquiais e ele próprio as regia enquanto outro não preparava para as reger

Poeta de grande sensibilidade e jornalista combativo, era ainda “apreciado orador sacro, possuía um estilo tão acessível aos auditórios populares que o escutavam com prazer”.

Sacerdote de uma notável acção pastoral e responsável inteligente e culto, modesto e dedicado.

Quando rabisco estas notas decorre na freguesia da Piedade, da Ponta, a festa da Padroeira. Uma festa que traz à lembrança bons momentos vividos, em tempos passados, naquele extremo da Ilha, celeiro abundante e, outrora, fértil em vinhos de casta nobre, como hoje lhe chamam.

A primeira vez que fui à Piedade, na companhia de meu saudoso Pai, foi em Julho de 1927, para assistir, a seu convite, à Missa Nova do Padre Francisco Vieira Soares. Voltei, alguns anos depois, para colaborar na capela local, nas festas de Nossa Senhora da Piedade. E não era fácil lá chegar, pois a estrada ainda não havia sido construída. Do porto das Lajes íamos até ao da Calheta, numa das lanchas locais – Lourdes ou Hermínia - e seguíamos a pé, normalmente o Sr. Chico Castro, organista, e eu próprio, pelos velhos caminhos, até à Piedade, Recebia-nos o velho e simpático Pároco, Pe. Francisco Soares. Da capela faziam parte, entre outros, o José Laranjeira e o Tomé Freitas, que possuíam boas vozes de tenor. E só destes me lembro.

Mais tarde passei a ir anualmente na camioneta da carreira, até à Ponta da Ilha, já então a estrada estava concluída. E que bons e saudosos momentos ali passei, na companhia da Olga, saudosa e querida esposa, e dos nossos filhos, que, felizmente, não mais esqueceram o lugar da Engrade onde ainda existe a nossa secular adega ou casa de verão.

Não faltávamos à Festa de Nossa Senhora da Piedade!

Mas, voltando ao Padre Soares (o Novo como era conhecido), importa mais dizer.

Como já referi em anterior escrito (1), o Padre Francisco Vieira Soares nasceu nas Lajes do Pico em 26 de Julho de 1902.

Com o falecimento da Mãe, era ele criança ainda, foi para a Piedade aos cuidados da avó e do tio Pe. Francisco Soares, também natural desta Vila, pároco daquela freguesia. Ali cresceu e dali foi para o Seminário de Angra, onde se ordenou em 1927. Como primeira colocação teve a Redacção da “Democracia”, da Horta, jornal que havia sido comprado pela Diocese. Com a chegada do novo Prelado, o jornal é vendido e o Pe. Soares é nomeado Cura dos Cedros, do Faial. Ali chegado, funda, com um grupo de professores da freguesia, entre os quais Manuel de Ávila Coelho, natural da Piedade, a revista “O Eco Cedrense”. O Bispo Diocesano, inesperadamente, retira o Pe. Soares dos Cedros e coloca-o na Prainha do Norte, Pico, apenas por alguns meses, pois, logo a seguir, transfere-o para a paróquia da Lomba, na Ilha das Flores.

O Pe. Soares não era pessoa para cruzar braços. Logo que chegou à nova paróquia, e verificando a carência de uma moradia para o Pároco, toma a arrojada iniciativa de construir uma casa para passal. E ela lá ficou.

A ele se ficou a dever também a fundação da Filarmónica local. E quando outros projectos tinha em mente, para não falar na cooperativa de lacticínios, é transferido para a freguesia de Ponta Delgada da mesma ilha.

Naquela importante freguesia florentina funda a filarmónica local. Mas isso implicava a preparação dos tocadores, os ensaios, a escolha dos reportórios adequados, etc., tal como já acontecera na Lomba. ( E aqui um pequeno reparo: é estranho que os historiadores florentinos – aqueles que me é dado conhecer – ignorem a actividade do Pe. Francisco Soares naquela ilha).

Não muito tempo decorrido, o padre Francisco Vieira Soares é transferido para S. Caetano do Pico, onde organizou uma sociedade para a pesca da albacora, então em franco desenvolvimento.

Quando o trabalho estava a frutificar, é convidado a voltar às Flores. Não aceita. O tio, Pe. Francisco Soares, há longos anos vigário da Piedade ,ia naturalmente envelhecendo. O Pe. Francisco era o único parente válido. Tornava-se imperioso regressar para junto daquele que o amparara na juventude. E fica na Piedade de coadjutor do tio Padre. Depois, este pede a manência e o Pe. Soares é nomeado vigário.”(2)

A actividade desenvolvida pelo Pe. Francisco Vieira Soares, na Paróquia da Piedade, está ainda bem presente. O Salão Paroquial ostenta o seu nome pois foi ele quem adquiriu um antigo edifício e o transformou no actual salão. Substituiu o tecto da ampla igreja e nela fez outras importantes reparações.

Em 1944 compra, em S. Mateus, com auxilio do Dr. Eduardo Machado Soares, o instrumental da antiga “Lira Picoense” que ali existira e havia sido fundada pelo Pe. Manuel José Lopes, e funda, na Piedade a “União Musical da Piedade”. Ensinou música aos futuros tocadores e entregou a regência a Manuel José (Racha). Com a saída do Manuela Racha para a Praia da Vitória, onde chegou a reger a Filarmónica daquela então vila e hoje cidade, passou a reger a “União Musical” Manuel Francisco Soares. E outros foram sucedendo.

O Pe. Francisco, que era um excelente músico e regente de capela, ( não tivesse sido aluno do Pe. José d´Ávila), por onde passava, organizava as respectivas capelas paroquiais e ele próprio as regia enquanto outro não preparava para as reger

Poeta de grande sensibilidade e jornalista combativo, era ainda “apreciado orador sacro, possuía um estilo tão acessível aos auditórios populares que o escutavam com prazer”.(3)

Sacerdote de uma notável acção pastoral e responsável inteligente e culto, modesto e dedicado, era uma “personalidade de nítida vocação literária que viveu numa contínua contradição imposta por quem foi incapaz de o compreender e de aceitar os rasgos intelectuais e mortais de tão brilhante espírito”.- (4).

A Piedade está na sua semana de festa. Que nestes dias não esqueça os seus maiores, que tantos são!

__________________

1)- E.A, “Figuras e Factos”. I Vol. 1993 –Pág. 88

2) Idem

3) Idem

4) Idem

Vila das Lajes,

1 de Setembro de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

TEMPOS QUE JÁ NÃO VOLTAM

NOTAS DO MEU CANTINHO


As estatísticas vão trazendo a público a mísera população que ainda existe. E, ao examiná-las, uma dor imensa nos invade para logo surgir a pergunta: Amanhã, um amanhã que não está distante, o que serão estas terras, estas ilhas? Terras bravias, onde “habitarão” os cagarros e os garajáus, tão somente!...


Quando se chega a uma certa idade passa-se a viver de recordações. Recordações dos tempos idos e que não voltam. E tão diferentes que eram!

Piores? Melhores ? Diferentes!

As famílias eram mais unidas. E tão unidas eram que a saída de um membro, que emigrava, ou de um que resolvia constituir o seu lar, provocava um vácuo, deixava uma saudade enorme e, se antes era para estranhas terras, quase o luto se apossava dos familiares que ficavam. Longe da casa paterna, os que a haviam deixado, não raro a recordavam com quantas saudades! Saudades tenho saudades,/ saudades tenho de alguém,/ saudades da minha terra,/ saudades da minha mãe”.

Actualmente são outros os cantares... As saudades da terra natal e das pessoas de família, normalmente são ténues ou não existem. Outros meios, outros amigos se encontram, outras vivências mais aliciantes se descobrem... E todo o passado esquece.

Os que agora emigram para o estrangeiro, normalmente, levam consigo toda a família; idosos, filhos adolescentes ou bebés de colo. Raros deixam algum membro da família atrás. E, quando decorridos os anos, e depois de conseguirem estabilidade económica, só cá voltam de visita, por escassas semanas, pois o “trabalho” os espera e o “bosse” não permite atrasos no regresso.

Pior ainda os que daqui partem para continuar estudos. Matriculam-se em cursos que, quase sempre, não têm “saídas” por cá... Depois, arranjam ligações, conhecimentos vários e instalam-se definitivamente nos novos meios. Os pais vão enviando, ou depositando regularmente as verbas necessárias para as matrículas, livros, hospedagem e alguns “extraordinários” e, no fim do ano lectivo, as passagens de regresso a casa.

E alguns deles com quantos sacrifícios! Mas, muitas vezes esse “regresso” é de escassas semanas, pois têm de preparar, dizem, uma “cadeira” que deixaram para segunda época...

As famílias, em silêncio, sofrem as ausências. As terras, ficam empobrecidas de valores e vão caindo na decrepitude.

Concluídos os cursos procuram instalar-se nos meios “padrastos” e por lá se fixam. Não podem vir a férias porque o trabalho passa a ser muito. Raramente dão notícias às famílias. E, anos decorridos, quando encontram algum conterrâneo e falam da terra é para “lamentar” o atraso em que ela se encontra, pois na Terra já não há ninguém capaz de alguma coisa fazer. E é verdade! esquecem que nessa terra houve ou ainda existe, Alguém que lhes pagou os “estudos”, com avultadas quantias conseguidas com sacrifícios tamanhos, sem que eles se lembrassem, talvez, de “restituir” as verbas que gastaram durante os longos anos da Universidade. E que aqueles que trabalhavam foram desaparecendo, sem que houvesse, localmente, alguém que os substituísse...

Não serão eles que, abandonando as terras de origens, a maioria das vezes contribuem para a sua degradação e atrofiamento? Quantos já pensaram nisso?

Mas aqui deixo muito sinceramente uma palavra de reconhecimento e de estímulo àqueles, poucos, que, concluídos os cursos, tiveram a coragem de voltar!

Acresce lembrar que moradias, outrora sumptuosas e imponentes, caiem na degradação. As ervas daninhas e os arvoredos selvagem vão-se assoreando dos espaços livros, e nem cabras existem para debicar os rebentos.

As estatísticas vão trazendo a público a mísera população que ainda existe. E, ao examiná-las, uma dor imensa nos invade para logo surgir a pergunta: Amanhã, um amanhã que não está distante, o que serão estas terras, estas ilhas? Terras bravias, onde “habitarão” os cagarros e os garajaus, tão somente!...

A navegação passará ao largo e os aviões nem se atreverão a cruzar os céus das ilhas, mas farão cruzeiros mais curtos, para alcançarem as grandes cidades.

Em 1866 a Ilha do Pico tinta 26.977 habitantes; em 1960 a população havia descido para 21.837. Presentemente não ultrapassa os 14.850 viventes.

E a propósito de estatísticas, permito-me transcrever, com a devida vénia, de um estudo de Manuel Moniz, publicado no “Diário dos Açores”, de 26 de Julho, o seguinte comentário: “O concelho que mais cresce é o de Vila Nova do Corvo, com 1,9% (488 habitantes), seguindo-se a Lagoa com 1,4%, a Ribeira Grande com 1,33 %, e S. Roque do Pico com l, l %. Só há 4 concelhos que perderam habitantes: as Lajes do Pico perdem , l, 08%, a Calheta de S. Jorge perde 0,54%, Ponta Delgada perde 0,24% e Angra do Heroísmo 0,15%.”

Não será motivo para uma reflexão muito séria? Só o concelho das Lajes, em cinquenta anos, perdeu metade da população! Dá que pensar,!

Vila das Lajes,

1 de Setembro de 2009

Ermelindo Ávila

sábado, 29 de agosto de 2009

A VILA DAS LAJES EM FESTA

Notas do meu cantinho


Mons. António Maria Ferreira, no seu livro “Perfumes de Lourdes” (1892) dedicou um capítulo às Lages do Pico. E escreve: “Foi o primeira logar dos Açores onde Nossa Senhora de Lourdes commeçou a ser publicamente invocada...”(...)“Em occasião aflictiva para os habitantes d’aquela villa, n’um d’esses dias em que o mar enfurecido parece, na phrase dos lagenses, querer engulir a terra, algumas canoas balieiras tripuladas por intrépidos marinheiros demandavam o porto, luctando corajosamente com as ondas enfurecidas; mas para os de terra havia iminente risco de os verem despedaçar-se nas penedias que tornam perigosíssima a entrada no porto”.(...)“...d´envolta com os gritos de angustias que de continuo irrompidam de todos os peitos eram repetidamente ouvidas de diferentes pontos da multidão as exclamações de :- Nossa Senhora de Lourdes livrae-os do perigo – Nossa Senhora de Lourdes salvai-os!.

“O facto é que a tempestade serenou, as embarcações entraram a salvo no porto, e da tripulação ninguem soffreu o menor dano. Desde então a confiança em N. Senhora de Lourdes começou a ganhar os corações entre aquele bom povo...”.

Estava-se em fins de 1882. Não tardou que se abrisse uma subscrição para a compra de uma imagem representativa da Virgem Maria nas suas aparições na cidade dos Pirinéus, França. Organizou-se uma subscrição que foi subscrita por vinte e sete Lajenses, sendo o primeiro o pároco Pe. António Ribeiro Homem da Costa e o vigésimo sétimo o Dr. João Soares de Lacerda. Entre os subscritores está a empresa baleeira de que é director Amaro Adrião de Azevedo e Castro, que também foi um dos subscritores individual. A Imagem chegou às Lajes a 4 de Setembro de 1883, e é da autoria do escultor Nunes, irmão do então Bispo coadjutor de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes.

Nesse ano a festa teve lugar no dia 30 de Setembro, precedida de “uma devota novena em que se preparou o espírito dos fieis pela meditação das principais virtudes da Santíssima Virgem e leitura dos portentosos acontecimentos realizados em Lourdes por intervenção de Nossa Senhora”.

Foi uma festa de tamanho luzimento, como ali não se via desde há 60 anos, onde o Deus da Eucaristia se achou exposto em trono deslumbrante à adoração dos fiéis.

A festa terminou com o recolher da Procissão, tendo o Pe. Manuel José Lopes, então vigário, versado o tema: Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.

Todos os anos se repetem em honra de Nossa Senhora de Lourdes estes festejos que se vão tornando cada vez mais esplêndidos.“

A festa passou a realizar-se na 4ª Dominga de Agosto (presentemente no último domingo), dia em que a igreja celebra o Imaculado Coração de Maria.

E Dom João Paulino, de cujos artigos publicados no antigo “Peregrino de Lourdes”, de Angra, em 1889, respigo estes dados, informa ainda:

Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum destes dias, conforme o tempo permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que atrai concurso imenso de espectadores”.

Em 1884 foram expedidos de Roma dois rescritos, concedendo as seguintes indulgências: 1ª plenária no dia da festa a quem visitar a imagem de Nossa Senhora na sua igreja, desde a véspera até ao sol posto, orando ali pelas intenções do Sumo Pontífice, havendo-se previamente confessado e comungado; 2ª parcial de 100 dias por cada vez que visitar a imagem de Nossa Senhora tendo ao menos o coração contrito; 3ª indulgência de altar privilegiado aplicável aos defuntos por quem se celebrar a santa Missa no altar da Santíssima Virgem.

A vila das Lajes, tal como em 1883 (cento e vinte e seis anos são decorridos) continua a celebrar as festas em honra de Nossa Senhora de Lourdes com toda a pompa e brilhantismo

Vila das Lajes,

21 de Agosto de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

IMIGRANTES

Nota do meu cantinho

Por estas ilhas todas encontram-se imigrantes, da América ou do Canadá, que aqui vêm pelos mais diversos motivos: visitar os familiares, alguns já idosos, gozar férias e retemperar as forças físicas, ou tomar parte nas festas principais das terras da naturalidade.

Dá gosto vê-los, abraçá-los e sabe-los bem. Trocar com eles alguns minutos de conversa amena, dando-lhes as informações que mais lhes interessam, da terra, das pessoas, etc. E não deixamos de saber dos outros que também partiram há tantos anos e cá não puderem vir pelas mais diversas circunstâncias; e igualmente dos parentes, que muitos são, que daqui saíram um dia para não mais voltar. Normalmente, é assim todos os anos. Até alguns há que, obtida a reforma, por aí aparecem todos os anos.

No entanto, já não aparece o “senhor americano”, que voltava uma vez na vida, trazendo nas malas e baús as mais diversas ofertas para os familiares e amigos. Não faltavam os alvaróses nem as calças de ganga, tecido que agora anda na moda. Essa figura carismática desapareceu.

Presentemente o imigrante retornado ou de visita, - raramente vem para ficar, (embora o número destes seja bastante limitado), - apresenta-se com o mais simples trajar. Já não traz baús nem grandes malas, pois a tarifa que paga ao avião não o permite. para alem das roupas de uso corrente. Nem esbanja dólares, em rodadas de copos de vinho nas tabernas ou cafés. É assim que andam por aí. E é com esse estilo de vida simples que gostamos de os encontrar.

Como disse, são às dezenas ou talvez centenas os imigrantes que topamos por ai todos os anos, em romagem de saudade.

Antes, ou melhor nos finais do século XIX e primeiro quartel do século XX, e já não vou muito mais atrás, - a emigração era praticamente individual. Partiam, às vezes, na própria noite do casamento, assim realizado para que a mulher ficasse a cuidar dos pais, e por lá se andava alguns anos até se conseguir pecúlio para fazer a casa e comprar alguns prédios. Era fácil a compra, porque se estava numa época de crise e as rendas não bastavam aos senhorios, que eram compelidos a vender as propriedades para conseguirem os meios de subsistência. Quantos emigrantes, mesmo ainda nos Estados Unidos, encarregavam os pais ou outros parentes de comprar os prédios do morgado ou do visconde que se encontravam à venda! E foi assim que a propriedade se foi dividindo.

Outros, ao voltar, iam comprando terras de milho e pastagens para constituírem a sua pequena casa agrícola !

Raros eram os que emigraram com todo o agregado familiar. E esses iam para nunca mais voltarem.

Antes, havia sido a emigração para o Brasil. Uma emigração diferente. E até corria entre o povo que quem emigrava para aquele País nunca mais voltava. Era o país dos esquecidos. E, na verdade, quantos por lá ficaram! O Estado de Santa Catarina é um testemunho forte desse caminhar definitivo para outras terras e estranhas gentes.

Todavia diferente foi a emigração para o Canadá, pais quase desconhecido até meados do século XX. Presentemente esse País é o que mais está ligado às ilhas açorianas.

A emigração para o Canadá, inicialmente, só era permitida a jovens saudáveis. Depois passou a ser autorizada aos agregados familiares. E aí deu-se o êxodo quase completo destas terras. Novos e velhos para lá caminharam. Lá se fixaram. Felizmente muitos puderam continuar os estudos secundários, que haviam interrompido , e fazer cursos universitários que lhes têm permitido ocupar cargos de destaque, até o ingresso na Política.

Mas foi pela saída duma grande parte desses emigrantes que as nossas ilhas ficaram mais pobres. Desapareceu de cá a juventude e a população local deixou de renovar-se.

As estatísticas actuais fornecem-nos dados confrangedores, facto que não é mais do que o resultado da emigração. Os benefícios de uns resultam muitas vezes no mal dos outros. No entanto não há que modificar as tendências naturais.

Certo porém que dá gosto receber os nossos imigrantes, embora por escassas semanas e com eles conviver alguns instantes, como foi o caso do almoço comunitário, chamemos-lhe assim, que teve lugar no passado domingo, a favor da igreja paroquial da Calheta de Nesquim, agora em reparação, e no qual se encontravam algumas dezenas de imigrantes, da localidade, que vieram para assistir à Festa do Bom Jesus, que ali se venera. Foi agradável e valeu a pena estar com eles, todos conhecidos e alguns velhos amigos.

Vila das Lajes, 4 de Agosto de 2009

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Supermercado

Notas do meu Cantinho


A vila das Lajes não tem sido muito feliz nas iniciativas que alguns particulares têm tomado. E não é de hoje mas de há tempos atrás. Haja em vista o que aconteceu com o malogrado campo de golfe.

Mais tarde veio o anúncio da construção de um hotel no fim da Silveira que, ao que parece, não passa de mera informação.

Anos decorridos surge a sociedade “Supermercados Ancora Parque, Lda”, com sede em Santa Catarina desta vila. E o que é certo é que a obra iniciou-se, até que um dia, o tecto do edifício em construção desabou, felizmente, sem atingir qualquer pessoa. Mais tarde, a cobertura foi reposta mas, algum tempo depois, as obras foram suspensas.

Parece que, novamente, se reiniciaram os trabalhos. Não confirmo porque por lá não tenho passado. No entanto consta que um dos sócios acaba de informar que o supermercado é para ser construído e instalado, embora tenha sido prejudicado o empreendimento por variadas imposições burocráticas que vêm impossibilitando a sua construção. Nada admira que isso aconteça...

Aqui há uns anos, houve quem pretendesse construir um edifício na zona do parque de campismo, destinado à instalação de um restaurante panorâmico. O local tinha e tem todas as condições para a implantação de um complexo turístico que, aliás, bastante viria valorizar a vila, mas a autorização foi negada mediante pareceres técnicos... Melhor foi que nada ali se fizesse, para o local ser transformado em arrecadação de embarcações...

Não sou um grande defensor da construção de supermercados. Prefiro o comércio tradicional devidamente estruturado e, dentro do meio urbano, quanto possível. Mas, a não ter nada, é preferível que se vá para uma construção moderna, ampla e onde se instale um comércio diversificado e evoluído, evitando-se que os compradores saiam para outras localidades, como parece estar a acontecer, o que só prejudica o concelho, com a fuga dos capitais e o fomento do desemprego.

Um dos actuais sócios dos “Supermercados Ancora Parque Lda.” é o luso-americano Comendador Manuel Eduardo Garcia Vieira que, na Califórnia, se tem notabilizado pelos seus empreendimentos industriais, valendo-lhe, a sua operosa e intensiva actividade, diversas homenagens e agraciamentos.

Na Silveira, subúrbio desta vila e local do seu nascimento, o Comendador Manuel Eduardo Vieira promoveu a realização de uma obra notável, o salão e a sociedade que o mantém e o respectivo complexo desportivo, empreendimento de vulto que muito valorizou a localidade e tem contribuído para a promoção sociocultural da respectiva população.

Tenho informações fidedignas de que o Comendador Manuel Eduardo Garcia Vieira se empenha para que o Supermercado lajense seja construído e entre em actividade com a possível brevidade. Rejubilo com a notícia e espero poder ainda visitar o moderno estabelecimento, naquela desenvolvida zona onde, actualmente, se situam empreendimentos de grande relevo: o quartel dos Bombeiros Voluntários, o complexo desportivo municipal, a padaria e pastelaria Bagaço, a Empresa da Vigo - Lajes, o minimercado Ancora - Parque, o Centro de Artes e de Ciências do Mar (antiga fábrica da baleia SIBIL), e o Posto de Turismo Municipal, no antigo Castelo de Santa Catarina.

E que a emperrante burocracia não mais impeça novos empreendimentos, como, aliás, vem acontecendo em outras terras açorianas, onde o desenvolvimento é notório e benéfico para as respectivas populações.

Vila das Lajes,

3 – 08 – 2009

Ermelindo Ávila

AS FESTAS

A MINHA NOTA

As festas religiosas, por estas bandas, tinham maior expressão no acto litúrgico propriamente dito. Os dias de novena que antecediam o dia da festa, já eram de festa. A parte da tarde desses dias era destinada ao acto religioso, constituído por hinos e ladainhas cantados pela Capela, por vezes com o reforço de músicos de fora da paróquia e não faltava pregação, muitas vezes a cargo de orador convidado. Nos três últimos dias, a novena terminava com Bênção do Santíssimo, solenemente exposto em seu trono.

A parte externa constava tão somente do arraial nocturno normalmente realizado de véspera, com fogo preso e iluminação à “veneziana”. (A electricidade ainda não tinha cá chegado). O tiroteio entre o castelo e o navio, era por vezes empolgante e dava testemunho do valor artístico do pirotécnico. O fogo de artifício era construído na ilha Terceira, depois passou a ser no Cais do Pico, por artistas dali.

Num dos seus escritos, acerca da origem e solenidade da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, sua terra natal, que teve início em 1883, refere o então reitor do Seminário de Angra, depois Bispo de Macau, Dr. João Paulino de Azevedo e Castro:

Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum desses dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que aqui atrai concurso imenso de espectadores”. (Do artigo Incremento da devoção publicado no “Peregrino de Lourdes” de 27 de Junho de 1889, decorridos que são 120 anos!)

Pelos anos fora era esse como que o figurino das festas religiosas principais da Ilha. Depois, com a criação das Filarmónicas, os arraiais nocturnos passaram a ser constituídos por concertos musicais, para os quais, aqueles agrupamentos musicais se preparavam com os seus melhores reportórios. E que aplaudidos eram pelas centenas de espectadores!

A partir do início da última metade do século passado, tudo se modificou. Nasceram as “Semanas de Festas”. E, embora se mantenham os arraiais nocturnos e os concertos das filarmónicas locais, mais interessam os modernos grupos de música pop, contratados no continente ou em outras ilhas e algumas vezes do estrangeiro. Com tais festejos parece haver diminuído o interesse das populações, principalmente da juventude, pelas solenidades religiosas, embora ainda se mantenha o novenário e a liturgia solene do próprio dia.

É o caso da Festa de Santa Maria Madalena, do Bom Jesus, em São Mateus, Calheta de Nesquim e Criação Velha, de São Roque, na Matriz do titular, e de Nossa Senhora de Lourdes na Vila das Lajes.

Interessa aqui referir que, com excepção da Madalena e Criação Velha, as demais solenidades tinham o concurso e o empenho dos baleeiros locais que contribuíam, com importâncias monetárias, por vezes avultadas, retiradas das respectivas “soldadas”, para o brilhantismo das festividades.

E tanto assim que, ainda hoje, os baleeiros que restam, fazem empenho em estar presentes na procissão de Nossa Senhora de Lourdes, junto das canoas que se instalam em frente das antigas casas dos botes – onde presentemente está instalado o “Museu dos Baleeiros”, - em homenagem sentida Àquela Senhora que os livrou tantas vezes de perigos e mortes iminentes. O mesmo acontecia e ainda acontece em São Roque, na festa de Nossa Senhora do Livramento que se venera na Igreja do Convento franciscano.

Neste momento só pretendi recordar o estilo das festividades de há cem anos. Nada mais.

BOM DIA!

Vila das Lajes.

25 de Julho de 2009 Ermelindo Ávila