quinta-feira, 28 de junho de 2007

A VILA E O MAR

Nasceu sobre o mar e sobre o mar se tem desenvolvido. Hoje chamam-lhe “Vila Baleeira” pela actividade que desenvolveu mais de um século.
Não é propriamente uma vila piscatória, se bem que muitos sejam aqueles que ainda hoje se dedicam à chamada pesca artesanal.
Vive voltada para o mar. Contempla orgulhosa a grande baia que a cerca e a montanha grandiosa que lhe fica em fundo. Faltam-lhe porém os passeios marítimos.
Está anunciado um arruamento que ligará a zona da antiga Pesqueira ao Castelo e Fábrica da “Sibil”. E bem necessária que ela é para fazer uma ligação rápida e normal àqueles dois polos turísticos da Vila, uma vez que os actuais acessos distanciam os referidos locais. Mas há que acautelar a “Mouraria”, um local histórico onde as lavadeiras lajenses iam, na maré vazia, lavar as roupas, e os gados iam dessedentar -se, pois a água que saia das muralhas vinha dessalgada.
A zona do Museu dos Baleeiros carece de um tratamento adequado com a frequência diária que tem a mais notável instituição cultural da vila. Julgamos que as obras de ampliação do Museu darão àquele espaço um aspecto condizente com a função sócio-cultural que desempenha nas Lajes.
Segundo as informações que temos, o molhe de defesa da parte norte da vila das Lajes deve estar concluído dentro de alguns meses (nem chegará a ano). Há que continuar os trabalhos, construindo um segundo molhe ao sul daquele, afim de proteger capazmente a zona da Vila que fica por detrás do Calhau Grosso. Não vai ser esquecida a consolidação e arranjo do actual acesso de trabalho, ao molhe exterior?!... Depois, impõe-se o ordenamento conveniente do Juncal, (antigos quintais das moradias leste da Rua Direita), hoje classificado como zona protegida, pela espécie de junco que lá existe, das únicas no Universo. No entanto, uma zona protegida sem protecção, sem tratamento da espécie juncácea (?) que por lá se desenvolveu, sem acessos (carreiros ou atalhos) para que possa ser observada, sem permitir que os pescadores - amadores possam atingir a costa, outrora tão fértil em peixe e crustáceos, - não é compreensível.
Antes da classificação o junco era normalmente ceifado para uso nas pocilgas dos suínos. Não ficava prejudicado porque rebentava com novas forças e estava sempre verdejante. Presentemente, está envelhecido e “caído”, apodrecendo aqui e ali. A poda não o prejudicava como não prejudica as árvores de fruto, as roseiras, ou as árvores de sombra, quando feitas racionalmrnte…
Trata-se de um espaço pertencente aos Serviços Regionais competentes. A esses serviços compete não só fiscalizar como, sobretudo, cuidar da zona protegida.
Em terminando os trabalhos do molhe de protecção, impõe-se que o espaço do antigo campo de jogos, agora ocupado pelo estaleiro das obras em curso, tenha um tratamento capaz de o embelezar e tornar útil como zona de lazer, que bem falta.
A Vila das Lajes está num período de transformação. O turismo já por aí aparece com notória frequência. Vão surgindo estabelecimentos hoteleiros, embora excelentes, mas de terceira ordem. Ainda há dias foi aberta a nova Residencial Bela Vista, de Camilo Costa. Está equipada com os indispensáveis requisitos modernos de molde a satisfazer totalmente os utentes. Mas não basta. É indispensável que apareçam outros investidores que, dentro da Vila, instalem uma unidade hoteleira – hotel de duas ou três estrelas – para que o visitante estrangeiro não se limite a visitar rapidamente a vila e os seus núcleos de interesse, e abale a pernoitar noutros sítios…porque têm hotel. E a classificação “hotel” é muito importante para o visitante estrangeiro, se bem que, pela Europa ,v.g., haja estabelecimentos classificados de hotel, muito inferiores às nossas residenciais. Não colhi quaisquer informações …
Julga-se que o Município tem algo a dizer neste sector. Porque não põe à disposição de investidores interessados o espaço que tem reservado para um teatro – estabelecimento que, pela arquitectura que oferece, só prejudicará o aspecto urbanístico do centro histórico da vila, o qual pode muito bem ser desviado para outra zona, além de só interessar os residentes – estimulando a implantação, no local, de uma unidade hoteleira, como vem acontecendo em outras vilas da Região ?!
A promoção artística, cultural e económica de qualquer meio não depende somente dos seus habitantes mas igualmente dos respectivos municípios, que existem – não como poder local – mas como entidades promotoras do progresso das respectivas circunscrições e do bem-estar social dos seus munícipes.
Vila Baleeira,
19-Jun-2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 25 de junho de 2007

CONTRABANDO

Em tempos passados era “normal” o comércio de contrabando do tabaco desembarcado das baleeiras americanas. Vários eram os negociantes contrabandistas por esse Pico fora e não só. Em todas as Ilhas se fazia contrabando de tabaco e de roupas de “angrin”. No excelente estudo que publicou no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Vol. XI 1993-95, pág.135), sobre o “Faial 1808-1810 – Um tempo Memorável”, o Dr. Ricardo Manuel Madruga da Costa, transcreve uma carta do Comandante da “Iris”, na qual “é possível aperceber ainda com maior precisão os contornos da rede de contrabando e a natureza diversificada das mercadorias transaccionadas, completada por um informação que lhe fora prestada pela firma Tho’s Reay & Cº sediada no Fayal: “(...) Tenho pois a honra de remetter a Vossa Excelencia a / inclusa Copia da dita Carta (que o Capitão-General havia pedido por ter conhecimento verbal da sua existência) datada de 29 do passado e igualmente de participar a Vossa Excelência que entre os dias 22 e 26 do passado, se avistarão desta Fragata dois Navios Americanos, na Costa Meridional da Ilha do Pico, comunicando-se com a Terra, e que depois foi publicado, e notorio no Fayal, que aquelles navios tinhão feito contrabando de Tabaco. Sendo o Consul Americano por mim perguntado (sic) a este respeito, avançou o contrario, porem suspeita-se com bons fundamentos, que elle mesmo teve comunicação clandestina com os ditos Navios (...)”.
Há dias passei na rua marginal da Vila, onde está o antigo “poço da Rochinha”. Entristeceu-me algo, que aquele poço esteja praticamente inutilizado, pois dele extraiu a população da zona, durante séculos, a água algo salobra mas indispensável aos seus usos domésticos. E não só...
Recordei uma “história” de contrabando que, na minha juventude, contava a centenária Luiza de José António, moradora nas imediações. Ela própria negociava com tabaco americano, para suprir os gastos domésticos “uma vez que o marido era quase inválido”. Certo dia – e aqui vai a história- teve conhecimento que a guarda da Alfândega lhe ia dar busca à moradia. Ainda de madrugada, tomou o pote de água e colocou no fundo algum tabaco que foi despejar no poço da Rochinha. No regresso trouxe água que vazou num buraco da cozinha térrea. E tantas vezes fez o percurso quantas as necessárias para se desfazer do contrabando que, se fosse encontrado, a sujeitaria a pesadas penas. Da última vez que transportou a água, vira-se para os guardas, que estavam à entrada da rua e que só podiam iniciar a busca depois do Sol nascer, e diz-lhes: “Parece impossível uma mulher não poder governar-se na sua casa!” Os guardas que ignoravam o “trabalho” de Luiza de José António, responderam-lhe: “Esteja à vontade!” Quando apareceu o Sol por detrás da lomba, os guardas invadiram a casa mas nada encontraram. E ela contava o acontecido com entusiasmo, pois era uma das várias façanhas da sua vida.
Um outro caso de contrabando deu-se na freguesia da Piedade. Não daqueles de que nos fala Manuel d’Ávila Coelho no seu interessante trabalho “A Freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico” (Boletim do N.C. da Horta, Vol.2, Nº3-1961, pág.291) mas de um outro acontecido no lugar da Engrade onde passavam o verão algumas famílias lajenses.
Era habitual alguns lajenses irem passar o verão nas adegas que possuíam na Engrade, freguesia da Piedade. Quando aí estavam tiveram conhecimento de a guarda da Alfândega, aquartelada na Calheta de Nesquim, caminhara para aquele lugar, pois houvera uma denúncia de que naquele sítio se fazia contrabando de tabaco. O “negociante” não se amedrontou, como aconteceu com Luiza de José António. Mandou preparar uma refeição com linguiça e torresmos, e o bom vinho Verdelho. Juntou o tabaco na celha do lagar, instalou esta no pátio, com o portão aberto para o caminho. Em cima da celha colocou uma porta a servir de mesa. Cobriu-a com uma toalha e sobre ela a “merenda”.
Mandou vigiar os guardas e quantos estes se aproximavam sentaram-se à improvisada mesa e iniciaram a refeição no meio de grande alarido. Quando os guardas passavam, convidou-os a entrar e a comer. Eles aceitaram e se bem comeram melhor beberam. No final do repasto perguntou-lhes o contrabandista:” Para onde ides?” Resposta: “Íamos fazer um serviço mas agora vamos é para casa.” E assim fizeram. Tinham comido sobre o contrabando...
Não menos interessantes são as narrativas que Ávila Coelho faz no seu trabalho acima citado. Não as vou repetir.
Mas, afinal, que vai acontecer ao Poço da Rochinha ? Vão restaura-lo? É o “ex libris” da zona ribeirinha da Vila.
Lajes do Pico
24 de Junho de 2003 Ermelindo Ávila
in Figuras & Factos II Vol., 2005

sábado, 23 de junho de 2007

Centenário da Filarmónica RECREIO DOS PASTORES

O concelho das Lajes do Pico pode orgulhar-se de ter o maior número de filarmónicas centenárias.
A segunda mais antiga do ex-distrito da Horta é a “Liberdade Lajense”, fundada em 14 de Fevereiro de 1864. A seguir vem a “Lira Fraternal Calhetense”, fundada em 1888. Depois, a “Recreio Ribeirense”, fundada em S. Cruz das Ribeiras a 6 de Janeiro de 1900.
Agora chegou a vez da Filarmónica “Recreio dos Pastores”, fundada em 23 de Junho de 1907, na freguesia de São João, também do concelho das Lajes, celebrar o seu primeiro centenário.
Centenárias, no concelho de São Roque existe a “União Artista”, fundada em Março de 1880; e, no concelho da Madalena, a “Lira Madalense”, fundada em 1897.
Segundo os elementos extraídos do livro de actas da Junta de Paroquia da freguesia de São João, a Filarmónica “Recreio dos Pastores” apareceu a primeira vez em público na véspera da festa do Padroeiro, São João Baptista, a 23 de Junho de 1907. Consequentemente ocorrem agora cem anos! Um acontecimento notável que está a ser assinalado com o maior relevo.
Quando a “Recreio dos Pastores celebrou o cinquentenário, lá estive presente e pude testemunhar o entusiasmo dos sanjoanenses em comemorar a faustosa efeméride. Já passaram outros cinquenta anos! E a “Recreio dos Pastores” continua cheia de vitalidade no cultivo da bela Arte, mercê dos seus sócios, dirigentes e tocadores. Porque não dize-lo, de toda a população da laboriosa freguesia de São João? !
“Recreio dos Pastores”, uma denominação significativa a registar a operosa actividade pastorícia da freguesia que, durante muitos anos, foi a mais industrial da Ilha do Pico, pelo delicioso “queijo do Pico” que só ela sabia fabricar.
A industria do queijo, originária da freguesia, pois foi ali que se fabricou o primeiro queijo do Pico, deve ter-se desenvolvido paralelamente à da tecelagem por serem ambas produto da actividade pastoril tão do gosto daquele povo.” (1)
A “Recreio dos Pastores” actuou a primeira vez na homenagem que a freguesia prestou a dois distintos filhos da freguesia: o Dr. Manuel Homem Bettencourt, que emigrou jovem para o Brasil e ali fez o curso de medicina dentária e foi Consul de Portugal, gozando de grande pestígio entre a comunidade portuguesa e a própria nação brasileira; e o padre Cândido Ávila Martins que, depois de ordenado e de haver exercido os seu munus na ilha Terceira, preferiu emigrar para os Estados Unidos da América onde se manteve até ao falecimento, tendo construido, nos poucos anos em que viveu, o templo São Miguel Arcanjo. Faleceu com 35 anos de idade apenas, em 1898”. (2)
Foram fundadores da “Recreio dos Pastores”: José Silveira Pimentel, José Vieira Cardoso, João de Brum Bettencourt, Manuel Vieira Madruga, João Vieira Madruga, João Manuel Madruga, António Brum da Silveira, António Silveira Martins, todos da freguesia de São João, e, ainda, um tal “Caraça de Ferro”; e, da freguesia das Lajes, António Vieira Rodrigues, Manuel Vieira Cardoso (Pataca) e Gaspar Vieira das Neves. O seu primeiro Regente foi Manuel Baptista, da freguesia de São Mateus. Depois, Manuel Garcia da Rosa (irmão do Dr. Garcia da Rosa que, nas férias, prestava grande contributo à Filarmónica chegando a organizar partituras); Professor Manuel José dos Santos; David Leal Ferreira, um auto didacta de muito valor (compunha e fazia arranjos para a Filarmónica, e para teatros, mas tudo quis que o acompanhasse para a eterna morada…); Gil Xavier Bettencourt; Manuel Bernardo Maciel; João Rodrigues Ferreira; Manuel Emílio Porto; Olga Maria Lopes Machado Ávila de Sousa Pacheco; Manuel Joaquim Cabral; Zulmiro Silva, de São Mateus; Mário Maciel e Paulo Renato Bettencourt. Presentemente é seu Regente Anibal Alves Gonçalves.
A“Recreio dos Pastores” teve como primeira sede uma casa junto à Igreja Paroquial, até que, em 7 de Fevereiro de 1935, inaugurou a sede própria, no Ramal. Mais tarde foi esta remodelada e ampliada, sendo inaugurada em 23 de Junho de 2001.
A Filarmónica funcionou sem estatutos, como era habitual na época, até 1932, ano em que foram aprovados pelo Governo Civil os respectivos estatutos, passando a Sociedade a denominar-se “Grémio de São João Baptista” e na qual ficou incorporada a “Recreio dos Pastores”. Em 1995 aprovou novos estatutos, elaborados pelo Dr. José António Bernardo Maciel, advogado, natural da freguesia. Nesse ano foi promovida a inscrição oficial no Registo Nacional das Pessoas Colectivas.
A “Recreio dos Pastores” tem feito diversas digressões pelas Ilhas, Continente Português e Canadá, tomando parte em festividades locais. Visitou Lajes das Flores; Vila das Capelas São Miguel; Santa Cruz da Graciosa; Vila Nova da ilha Terceira; Santa Cruz das Flores; Vila da Povoação; Pedrogão Pequeno, Distrito de Castelo Branco; Norte Pequeno, de São Jorge; e Canadá (Oakville e Toronto).
Teve também o prazer de receber, em visita de cortesia, a “Filarmónica Divino Espírito Santo” de Vila Nova Ilha Terceira; “Eco Edificante” do Nordeste São Miguel; “União Popular” da Ribeira Seca, São Jorge; ”Filarmónica Pedroguense”; “Filarmónica Recreio São Lázaro”, da Ilha de São Jorge; e “União dos Amigos“, das Capelas, São Miguel.
Ao longo destes cem anos participou e abrilhantou, com grande êxito e aceitação do público, não só as festas da própria freguesia como as principais da Ilha do Pico.
Depois de um certo período de encerramento, motivado pela degradação do instrumental, teve o prazer de ver constituída uma comissão para a angariação de novo instrumental. Presidiu a essa comissão o Professor catedrático Doutor José Ávila Martins, saudoso conterrâneo a quem se prestou a devida homenagem. A comissão era constituída pelas principais individualidades de São João. “Nos Estados Unidos teve também trabalho árduo e importantíssimo a Doutora Fátima Martins, personalidade de grande dinamismo, já falecida, que muito trabalhou para a concretização da compra de instrumentos, naquele País”.
Em 23 de Maio de 1992 a Recreio recebeu 32 novos instrumentos, uns vindos da América e Canadá, alguns oferta pessoal de sanjoanenses e outros adquiridos com o produto de dádivas locais.
Em 2002 participou na gravação de um CD, “Sons da Montanha”, conjuntamente com as Filarmónicas do concelho das Lajes, para a celebração dos 500 anos do Município; e em 2006 gravou o primeiro CD para comemorar o seu 1º. Centenário.
A “Recreio dos Pastores” faz parte, como associada, da Federação de Bandas das Ilhas do Ocidente.
Conheci ainda vários dos fundadores, sócios dirigentes, regentes e tocadores a quem presto a minha homenagem.
Presentemente a Filarmónica “Recreio dos Pastores” tem, como Presidente da Direcção, José Armindo Alves Gonçalves, pessoa de dinamismo invulgar que se vem dedicando de maneira assombrosa aos problemas da freguesia, a cuja Junta de Freguesia preside há vinte anos (!), bem como à Casa do Povo local.
Ao Bom Amigo José Armindo, os meus agradecimentos pelos elementos oferecidos para a organização deste texto e votos de muitas felicidades bem como às prestimosas colectividades a que preside.
P.S.-Por lapso involuntário, não foi referido o nome do regente Manuel Xavier Soares no historial desta filarmónica. As minhas desculpas. (Ermelindo Avila)
______________
1)– Madruga, Dr. Manuel Alexandre – “A freguesia de S.João Baptista da Ilha do Pico, na Tradição Oral dos
Seus Habitantes . separata do Boletim do N.C.H. Vol.1, nº 2, Dezembro de 1957, págs, 143/167.
2) _ Carlos,Padre José –“ Daqui houve Missionários Até aos Confins do Mundo”, 2000, pág.21-
VILA DAS LAJES, 18. 06. 2007
ERMELINDO ÁVILA

sexta-feira, 22 de junho de 2007

BALEAÇÃO (um pouco de história) II

Já referi aqui a iniciativa de João Paulino Narciso que, por volta de 1866, pretendeu estabelecer uma armação baleeira nesta vila, cujos resultados foram infrutíferos. Mas os lajenses não se quedaram perante esse insucesso. Depois dos Dabney’s terem estabelecido, de parcerias com o Capitão Anselmo, uma armação na Calheta de Nesquim, surgiram logo diversas armações pelo Sul do Pico. Uma das primeiras, senão a primeira, foi a do Raimundo, na freguesia de São João, que veio a ser destruída pelo ciclone de 28 de Agosto de 1893. O material que restou foi vendido para as armações desta vila.
Em 1897 existiam nesta vila seis companhias baleeiras, sociedades irregulares, que funcionavam em nome dos respectivos gerentes. Na Delegação Marítima estavam registadas: Companhia de João Manuel e outros (sic), com as canoas “Aurora”, ”Amélia” e “Santo Cristo”; a Companhia de António Laureano, com o barco “Ella”; a Companhia de Manuel Joaquim, com as canoas “Leonor” e “Flor das Ilhas”; a Companhia de Francisco Xavier Bettencourt e outros, com as canoas “Águia” e “Andorinha”; a Companhia de João de Deus Bettencourt, com as canoas “Espírito Santo” e “Felicidade”; a Companhia de Manuel Pereira Domingos, com as canoas “Conceição “ e “S. Sebastião”; e a Companhia de Francisco da Rosa Vieira, com as canoas “Santo Cristo” e “São Pedro” . Na Calheta de Nesquim havia a Companhia de Anselmo Silveira e outros, com as canoas “Apatia”, ”Democrata” e Calhetense”; e nas Ribeiras, a Companhia de Joaquim Medina com as canoas ”Boa Vista”, Santo António” e “Espirito Santo”. Em São Roque havia também duas Companhias, a de Manuel Machado da Silveira Soares com as Canoas “Maria Pequena”, “Madalena” e “Livramento”, e a de António Cristiano de Sousa, com a canoa “São Roque”.
No entanto, o jornal “O Lagense”, que existiu nesta vila, em seu número 131, de 20 de Maio de 1893, dava a seguinte notícia: “As canoas baleeiras que actualmente estacionam nos diferentes portos desta ilha e fazem serviço, são em número de 39, sendo duas em São João; 15 nesta Vila; sete nas Ribeiras; quatro na Calheta e quatro em Santo Amaro.”
Todas as companhias funcionavam em regime de cooperativas e não possuíam, ao que consta, contratos escritos. Só em 1904 é que se encontram nas Notas do Notário Tomé Cardoso de Simas Machado e Mello, as escrituras de constituição das Sociedades Baleeiras: “Nova Sociedade Lajense,” de que era gerente Manuel Cardoso Machado Bettencourt; “Companhia Nova Ribeirense do Pico” e ”Companhia Velha Ribeirense”, das Ribeiras. O capital social da Lajense era representado, então, por” casa de alto e baixo, para a recolha das canoas e o direito a colocar no Caneiro as caldeiras para extracção de azeite”.
Nas mesmas escrituras afirmava-se ainda: “Que tendo há anos uma sociedade para a pesca da Baleia, cachalotes e outros similares e venda do respectivo produto, vem pela presente escritura constituir legalmente uma sociedade ...”
Ao longo dos tempos diversas leis foram promulgadas pelo Governo para a disciplina da actividade baleeira. Em 26 de Maio de 1862 é publicada uma Lei que “concede certos benefícios aos navios, utensílios e indivíduos que se empregassem na pesca da baleia. A Lei de 10 de Abril de 1877 prorroga por mais dez anos a lei de 26 de Maio de 1962 sobre a pescaria da baleia nos Açores. E, em 14 de Abril de 1886 é publicada uma Portaria que regula a execução das Leis de 26-5-1862 e de 10-4-1877, acerca da pesca nacional da baleia.
Em 11 de Abril de 1901 é publicada nova Lei que regulamentou a actividade baleeira e que dá origem à legalização das sociedades existentes. Em 1918 são obrigadas as sociedades a reformular os respectivos pactos sociais e em 10 de Março de 1924 é publicado o Decreto nº 11011, que regulamentou a Lei 1561 e o qual dá origem às novas sociedades, cujos pactos sociais vieram a ser realizados em Abril de 1929.
Depois é publicado em 19 de Maio de 1954 o célebre Decreto nº 39.657 que estabeleceu as zonas de baleação e limitou, assim, a actividade. Afinal, estava-se no princípio do fim!...
Do Pacto Social da “Nova Sociedade Lajense, Lda.”, outorgado no dia 3 de Julho de 1904 – cem anos são decorridos ! - nas notas do antigo Notário Tomé de Simas, já atrás referido, constam as cláusulas que não deixam de ter interesse para um estudo sócio-económico daquela extinta actividade. Dele se extraem as seguintes.”
= Tendo há anos no porto desta vila uma sociedade particular para a pesca da baleia, cachalotes e outros similares e venda do respectivo produto, o vem pela presente escritura constituir legalmente a mesma sociedade.
= Ao sócio oficial ou trancador que se ausentar do porto desta Vila para ir balear fora, em botes que não sejam da companhia, será descontado dos lucros da sua quota quarenta e cinco por cento para a companhia, das baleias arpoadas durante a sua ausência.
= O sócio que arriar à baleia em canoas que não sejam da Companhia e onde estiverem botes dela, será excluído da sociedade e se lhe entregará em dinheiro a quantia que a maioria dos sócios entender valer a quota ou acção que tiver na companhia.
= Divisão – Do produto total da pesca serão pagas todas as despesas com reboques, imposto do pescado, vigias, fretes, comissões, e quaisquer outros imprevistos fizerem até que a Companhia seja embolsada da importância que tiver produzido a pesca e da importância que sobrar destas despesas serão pagas as soldadas que serão para cada oficial uma parte de vinte; para cada trancador uma parte de trinta; e para cada tripulante uma parte de cinquenta. – Depois de pagas as soldadas a sociedade por maioria de votos dos seus sócios designará a importância que deve reforçar o fundo social ou se deste se deve levantar alguma quantia para reforçar o dividendo.”
O gerente tinha direito a uma soldada, pelo seu incomodo (sic) igual à de cada tripulante não classificado.
O sistema de remuneração, estabelecido em 1904 e que, naturalmente, redominava desde a fundação das Companhias Baleeiras (eram assim designadas), vigorou sempre até à proibição da caça ao cachalote, em 1947.
Importa ainda lembrar aqui que o Governador Santa Rita, que governou o Distrito da Horta durante vinte anos, no relatório de 23 de Dezembro de 1867, referindo-se à Ilha do Faial, escreveu: “O contacto em que a população da ilha se acha com os americanos dos Estados Unidos do Norte (sic) e a frequência dos navios baleeiros daquela nação nos portos deste distrito, fez nascer a ideia das empresas da pesca da baleia. Efectivamente desde muitos anos se tem tentado este ramo da indústria humana, e a tal ponto chegara a ideia dos interesses que daí resultariam, que esta praça teve armados em um ano seis navios baleeiros. Infelizmente a fortuna não ajudou a todos; e daí veio naturalmente o desanimo. Presentemente só existem três baleeiras portuguesas, as quais mesmo neste último ano não obtiveram boa pesca. Contudo é esta uma indústria que podia ser de imenso interesse para este distrito, se a maior parte das empresas fosse coroada de um bom resultado.”
Tinha razão Santa Rita. A baleação foi uma indústria que muito contribuiu, durante século e meio, para um certo desafogo económico da população lajense e, igualmente, duma parte bem avantajada dos picoenses. Basta considerar que no ano de 1935. v.g., os portos da Calheta, Lajes e Ribeiras, tinham em actividade trinta e seis embarcações com 231 marinheiros.
Hoje, a lembrar a actividade, restam as regatas, com as canoas que daqui foram levadas para diversos portos dos Açores, mesmo para aqueles onde não existe nenhuma tradição baleeira. Mas as regatas, em dias festivos, sempre foram praticadas, utilizando-se as canoas baleeiras.
A quando da Visita Régia ao Faial, em 28 de Junho de 1901, um dos números do programa da recepção a Suas Majestade, foi uma regata de canoas baleeiras no porto da Horta como refere Marcelino de Lima (Anais do Município da Horta, 1943, pág.615). Ganharam as canoas das Lajes do Pico pertencentes às Companhias “União Lajense” – (Das Senhoras), e “Novas Sociedade Lajense” – (Os Judeus).Como prémio Dom Carlos ofereceu às referidas Companhias um bote baleeiro.
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P.S. No texto publicado neste Semanário ,em 22 de Janeiro último, sob o título “Horas Trágicas da Baleação”, por lapso deixei de referir os baleeiros: António Azevedo da Silva (António Teixeira), que foi atingido por uma baleia, tendo morte instantânea, e, levado pela linha, não mais apareceu. A Canoa chamava-se “Manuela Neves” e dela era oficial José Francisco Valim (Graxinha). O sinistro ocorreu em 13 de Junho de 1946. Alguns anos depois, em 1952 (?), João Ávila de Melo (João Saltão) , na canoa “Claudina”, de que era oficial João Silveira Furtado, depois de haver trancado uma baleia, foi levado pela linha para o abismo.
Agradeço aos amigos que me chamaram a atenção e me prestaram os esclarecimentos devidos.
Vila Baleeira, 1 de Fevereiro de. 2004 Ermelindo Ávila ,
in, Figuras & Factos vol.II, 2005

quarta-feira, 20 de junho de 2007

BALEAÇÃO (um pouco de história) - I

A baleação é um vocábulo usado pela primeira vez, segundo o erudito Coronel José Agostinho, por Robert Clark, quando pelos Açores andou a estudar a actividade baleeira.
Significa ela a actividade industrial dos açorianos que, ao longo dos séculos, se dedicaram como meio de sobrevivência, à caça do maior mamífero dos oceanos.
É muito vasta a bibliografia sobre a baleação. Mesmo antes do celebrado romance “Mau Tempo no Canal”, do insigne escritor Vitorino Nemésio, e da vasta obra literária do festejado escritor Dias de Melo, que, em seus trabalhos, quase uma trintena, praticamente esgotou a saga baleeira, muitos outros escritores e poetas, quer antes quer depois, têm dedicado boa parte da sua actividade literária à aliciante temática baleeira. Já um dia publiquei, eu que não passo dum rabiscador, incipiente trabalho sobre este aliciante tema (1).
Num modesto escrito jornalístico seria temerário tentar referir quantos, ao longo dos tempos, mas principalmente durante os séculos XIX e XX, discorreram, sob as mais diversas formas, acerca desta actividade, a mais importante indústria que se estabeleceu e desenvolveu, durante uma centena de anos, nestas ilhas, que não somente na ilha do Pico. Todavia lembro que já Gaspar Frutuoso, historiador e literato, formado na Universidade de Salamanca e micaelense de nascimento, nas suas Saudades da Terra, escritas por volta de 1580, falava do aparecimento de monstros marinhos no ano de 1536 ou 1537. (L.º 4º, pág.251).
A verdade é que as baleias sempre andaram por estes mares do Oceano. A sua existência remonta aos princípios do mundo, tal como as demais espécies que existiram ou existem em terra e mares. A própria Bíblia nos narra que o Profeta Jonas ( que deve ter existido no século VIII A.C.), sendo lançado ao mar, no meio de uma tempestade, pelos companheiros de viagem, foi engolido por um grande animal marinho. Jonas esteve três dias e três noites no ventre desse peixe. (Jonas, 2-1,3).
É natural que os navegadores, nas suas longas viagens pelos mares, topassem com monstros marinhos e deles se afastassem. No entanto, os povoadores, logo que chegaram a estas ilhas, aproveitaram todos os meios de subsistência e, consequentemente, esses monstros que eram arrojados às costas.
Todavia foram os americanos, ainda sob o domínio inglês, que iniciaram, nestes mares, a pescaria das baleias. E tanto assim que em 1768 andavam por estes mares açorianos (não havia a zona económica exclusiva... que, aliás, em breve desaparecerá...), 200 navios com a bandeira inglesa, na caça da baleia, o que levou o governador e capitão-general, D. Antão de Almada, em ofício de 19 de Outubro de 1768, a dirigir-se ao Ministro do Reino reclamando contra a presença desses navios nos mares dos Açores. E escrevia: ... sendo o azeite de baleia um dos géneros de grande utilidade para estas Ilhas, por que dele se servem os moradores para todo o gasto comum das suas respectivas casas e que sendo a providência de Deus Nosso Senhor servido dar uma tão grande cópia da produção daqueles peixes em todas estas costas, que dele se podia tirar uma avultada conveniência, não só em benefício destes povos, mas ainda da Fazenda Real, a nação inglesa se tinha aproveitado o ano passado desta pescaria (...) de que extraíram não só muita quantidade do dito género mas muito esparmacete e algum ambar...(Arq. dos Açores, Vol.VI, pág.8)
Em 11 de Setembro de 1869 o jornal “O Faialense” informava que em 1859 os Estados Unidos tinham uma frota baleeira superior a 600 embarcações.
A caça da baleia nos Açores inicia-se nos meados do século XVIII, embora Frutuoso, como acima se refere, houvesse assinalado, no século XVI, a presença de alguns monstros marinhos. Assim nos informa Carreiro da Costa no Esboço Histórico dos Açores, pág.207.
Em fevereiro (de 1857) foi armado em baleeira um brigue francês =Adonis= que tinha sido condenado pelo procurador do seguro; porque as despesas que exigia para o seu reparo eram excessivas, embandeirou-se à portuguesa com o nome de – Cidade da Horta-. (António L. Silveira Macedo - Hist. das Quatro Ilhas... II Vol. Pág 236 – 1981) O mesmo autor informa ainda (pág.281,Vol.c.): que, “Apesar dos poucos lucros que tinham dado os navios baleeiros armados na ilha do Faial, continuavam contudo os negociantes faialenses neste género de especulação possuindo já a praça da Horta 10 baleeiras.”
Na vila das Lajes “deve-se a João Paulino Laureano Narciso da Silveira, falecido em princípios de 1866, a introdução da caça da baleia com um brigue por ele armado e que lhe acarretou sérios dissabores e até a morte.”
Mas, certo é que o primeiro contrato escrito para a baleação costeira, se realizou em 28 de Abril de 1876 entre Samuel W. Dabney e George S.J. Oliver, cidadãos americanos residentes na Horta, e Samuel Silva, ou Anselmo Silva, cidadão americano, naturalizado, natural e residente na Calheta de Nesquim, da Ilha do Pico.
Os sócios Dabney e Oliver comprometeram-se a fornecer uma canoa devidamente preparada e arranjada e os utensílios e objectos necessários para a actividade e o sócio Samuel (Anselmo) a assumir pessoalmente o mando da canoa, e a prove-la com trancador e tripulantes devidamente habilitados.
Mas, a história não fica por aqui. Continuaremos.
(1) Ermelindo Ávila, “Temática Baleeira na Literatura Açoriana
Vila Baleeira, Jan. 2004.
Ermelindo Ávila
in Figuras & Factos, II vol. 2005

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O relógio da Matriz

A história do relógio da Igreja Matriz (S. Sebastião) ainda vai dar para fazer algum livro -provavelmente sobre os piores relojoeiros do mundo. Caramba. Ainda há tão pouco tempo foi feito um restauro de peso – embora a verdade é que passadas algumas semanas o relógio já não funcionava de novo. Desta vez a avaria parece ter sido pior, mas é tristonho ver uma máquina daquelas a servir de ornamentação. Será que se lhe retirarem os ponteiros o problema desaparece?!?...
in,Diário dos Açores, nº 37332, de 16-3-2004

Evidentemente que não se trata da Matriz da Santíssima Trindade desta vila. Mas o mesmo podia dizer-se. Na verdade o Relógio que se encontra no seu frontispício e que não é muito antigo, anda há anos parado sem que alguém possa dar-lhe concerto.
Antes, era o saudoso artista Calvino Santos que “olhava” pelo relógio e procurava mante-lo em funcionamento. E todas as semanas Leonel Costa, que há pouco nos deixou, infelizmente, subia a escada de acesso para dar corda no relógio. Uma avaria “grossa”, porém, não mais permitiu que o simpático “amigo de todas as horas” continuasse a funcionar e ele lá está com os ponteiros imobilizados, mudo e silencioso, o que não deixa de causar pena aos lajenses e surpresa aos que por cá passam e o espreitam inutilmente.
Como dizia, o relógio não é antigo. Conheço por esses Açores outros seculares que continuam a funcionar regularmente, orientando as vidas dos cidadãos e despertando a apatia de quantos por lá andam.
Numa das paredes laterais da Matriz encontra-se um quadro onde pode ler-se:
Relógio e sinos da Matriz – dedicados em 21-VIII-1977 – em memória de – Manuel V. Machado – 1902-1876 – e de seus Pais – Manuel Vicente Machado e Maria do Rosário Silva – oferecidos por sua Viuva Mary Eva Machado –( U.S.A.)
E, a propósito de sinos, recorda-se que há uma deliberação da Vereação da Câmara, de 16 de Abril de 1828 – precisamente há 176 anos, a cuja Vereação presidiu o Juiz de Fora, em que foi deliberado fazer tanger o sino de recolher nas nonas horas da noite pela pessoa que tivesse esse encargo, de inteligência com o Revº Vigário desta Vila na falta de sino competente nas casas do concelho o que tem feito executar mandando tanger às horas do costume o sino segundo da Matriz desta Vila, nomeando para esta obrigação ao carcereiro das cadeias da Vila, não só por morar nas mesmas cadeias mas por se achar perto da Igreja, cujo sino ele Presidente tem mandado correr, não só para avisar os cidadãos serem as horas de silêncio que se devem guardar como também para saberem das Reuniões que ele tem estabelecido e que por isso propunha que se notificasse o mesmo carcereiro para que todas as noites na hora por ele Presidente já nomeada assim o cumprisse.!
Ainda sobre sinos, o jornal AS LAGES, em seu numero de 15 de Abril de l915, dá a seguinte notícia: Pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia desta vila foram adquiridos dois sinos para a Matriz (que ao tempo funcionava na antiga igreja dos Franciscanos) da mesma vila, que chegaram na presente viagem do “Funchal”.
A 15 de Outubro daquele ano o mesmo jornal noticia ainda: Começaram já os trabalhos para a construção duma nova arcada na igreja de S, Francisco visto a existente não comportar os novos sinos oferecidos pela irmandade da Santa Casa da Misericórdia desta vila. E eles lá ficaram.
Os sinos e o relógio da Matriz contam somente vinte e seis anos. E, quando podiam celebrar as “Bodas de Prata”, já se encontravam inactivos.
O Relógio, embora colocado em ponto cimeiro, presta um serviço público, um óptimo serviço público aos paroquianos e não só Os lajenses já se haviam habituado a orientar suas vidas pelo bater das horas. E, igualmente, não deixava de prestar bons serviços aos que por aqui transitavam.
Impõe-se, portanto, que seja reparado e entre em funcionamento normal. Sabe-se que a Paróquia não dispõe dos meios indispensáveis à sua reparação e manutenção mas, atendendo ao serviço público que presta, esse encargo pode e deve ser suportado pela Autarquia Lajense, tal como acontece nas demais terras, por esse País fora. É, v.g., o caso do relógio da Matriz de Ponta Delgada, que está sob a responsabilidade do Município respectivo.
Demais, trata-se de um património que nada custou aos lajenses nem aos serviços públicos. Além disso, é uma memória de alguém que, embora ausente muitos anos desta sua terra natal, não a esqueceu e quis dota-la com um serviço útil, como seja o Relógio e os dois sinos, os únicos de que dispõe a Matriz – igreja mãe desta vila e da Ouvidoria. Importa, por isso, restaurá-lo e mante-lo nas devidas condições de funcionamento normal. Até porque será um estímulo para outras dádivas das quais está carecida a igreja Matriz, que parece ter entrado em estado decrépito
Manuel Vicente Machado e sua Esposa quiseram beneficiar a sua e nossa terra. Ele não teve o prazer de assistir à dedicação da sua dádiva. A Viuva Mrs. Mary Eva Machado e uma Filha, cá estiveram na ocasião. Concerteza que o fizeram com muito. Naquela altura os sinos e o relógio representavam uma dádiva muito valiosa.
Fico por este alerta, certo de que ele representa o sentir dos lajenses. E porque à Autarquia compete velar pelos bens do Património Público, - este é um bem de inestimável valia e utilidade pública - naturalmente que não deixará de atender a esta situação que bem módica é para o orçamento municipal.
Lajes do Pico,2l de Abril de 2004
Ermelindo Ávila
in, Figuras & Factos II vol, 2005

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Festa de Nª.Senhora de Lourdes e Semana dos Baleeiros II

Em anterior texto lembrei que a Festa de Nossa Senhora de Lourdes e a “Semana dos Baleeiros” estavam já próximas. Na realidade faltam escassos quatro meses.
A Vila das Lajes necessita de uma lavagem. As moradias devem ser arranjadas, pintadas e/ou pinceladas. Os edifícios públicos devidamente restaurados. E, a propósito, há prédios abandonados, que devem ser demolidos, já que neles nada se faz ou, então, entaipados para que desapareçam aqueles “monumentos” da nossa vil tristeza. É tempo de se ir pensando onde vão decorrer os festejos externos, uma vez que a zona da Pesqueira ainda não estará desobstruída porque as obras da muralha de defesa deverão continuar ainda por alguns meses acrescentados.
A Matriz não pode continuar no estado de decrepitude em que se encontra. A subscrição tem ido lenta mas os Serviços Públicos podem e devem dar uma ajuda para que o seu exterior seja remoçado, o relógio e os sinos, que apenas contam trinta anos, postos em funcionamento e o mais que necessário seja para que aquele autêntico monumento, inaugurado há quarenta anos somente, não se apresente aos estranhos (porque os lajenses já se vão habituando…) com aquele aspecto de abandono.
Mas vamos adiante.
A Festa de Nossa Senhora de Lourdes teve início, como ficou dito, no ano de 1883. O rendimento da festa foi de 131.795 reis e a despesa de 213. 420 reis. Nos primeiros cinco anos o rendimento total foi de l:181.158 reis e a despesa de 1:125.456 reis, do que resultou um saldo de 55.702 reis. Para a época não se pode dizer que fosse diminuta a receita, uma vez que poucos eram os rendimentos familiares e, consequentemente, as promessas de pouco valor. Mesmo assim, e a nota que tenho a meu lado não o refere, as armações baleeiras, que no tempo já eram seis, sempre contribuíram generosamente para as festas doando, normalmente, algumas “soldadas”, consoante a caça.
Além disso e durante muitos anos, as armações baleeiras tiveram à sua responsabilidade o fogo que, na ponta do Caneiro, se queimava à passagem da Procissão pela Pesqueira. Em alguns anos, a procissão parava, cerca de um quarto de hora, junto das Armações da Vila, o andor da Senhora voltava-se para o mar e os foguetes e morteiros eram lançados ao ar numa homenagem singela mas sentida à Virgem. O mesmo acontecia na passagem da Procissão pelas Armações da Ribeira do Meio. Afinal um espectáculo magnífico que atraía à cortina marítima milhares de forasteiros.
Aquando da comemoração do 1º Centenário nasceu quase a hoje já tradicional “Semana dos Baleeiros”. A actividade baleeira havia terminado poucos anos antes mas o espírito da baleação estava latente. E se já não havia baleeiros de profissão, havia-os do coração, da tradição e fiéis a uma actividade que, embora oficialmente extinta, estava latente no seu espírito e no seu coração. Os que restam e não só, todos os lajenses vivem intensamente aqueles dias e, quando a Veneranda Imagem se aproxima daquele lugar onde primitivamente foi invocada, os corações pulsam aceleradamente, os olhos marejam e uma prece se eleva até junto da Senhora “que nos tem salvado mil vezes” como diz a estrofe do magnífico cântico de louvor.
Hoje é diferente. Extinguiu-se a actividade baleeira, os armazéns de recolha têm outras aplicações e os antigos proprietários estão “desligados” das manifestações religiosas e do culto à Virgem de Lourdes…Mas, mesmo assim, a festa continua. É a festa dos lajenses e de uma boa parte dos picoenses que ainda aparecem a prestar o seu culto à Senhora que há 149 anos apareceu na Gruta de Massabielle a uma pastorinha, filha do Povo, Bernardete; e que há 125 foi publicamente invocada pelos lajenses, numa ocasião em que o mar parecia engolir a terra, enquanto as canoas, fora do porto, manobravam angustiosamente para passar as penedias que impediam a entrada. As preces públicas e clamorosas do povo alcançaram o milagre da Virgem e as embarcações entraram a salvo no porto das Lajes.
Decorridos tantos anos os lajenses continuam fiéis aos votos dos seus antepassados, A fé mantém-se viva. Nossa Senhora de Lourdes é sempre invocada como a celeste Padroeira dos lajenses e a Matriz da Vila das Lajes mantem-se como o Santuário bendito da Virgem. O povo simples e humilde desta terra não esquece Nossa Senhora de Lourdes. A Ela recorre, continuamente, em suas angústias e enfermidades e a Virgem sempre lhe vale com afecto maternal.
A história das Aparições da Virgem entrou no cancioneiro popular picoense. “…testemunho vincado da profundeza da devoção a Nossa Senhora de Lourdes nos Açores resulta na particularidade da sua integração no Cancioneiro Popular. Recolhemos algumas variantes descritivas das Aparições. Esta, autóctone das Lajes do Pico: “Desceste até a Lourdes, / ó Mãe de Deus verdadeira, /aparecer a Bernardina, / confidente mensageira, (…) E vinte, ó anjos do Céu,/ a louvar a Mãe de Deus,/ ensinar-nos a entoar /os altos louvores seus.” (1)
Uma vez mais preparemo-nos para celebrar condignamente a festa da Nossa Padroeira, no seu Santuário picoense.
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José Carlos, Nossa Senhora de Lourdes na Piedade Açoriana – Separata do Vol.XVII-1º semestre de 1961 – da Revista “Insulana”, órgão do I.C. de Ponta Delgada

Vila Baleeira
Junho de 2007
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 13 de junho de 2007

FESTA DE NOSSA SENHORA DE LOURDES E SEMANA DOS BALEEIROS - I

Terminadas as Festas – Festas do Espírito Santo – os lajenses já falam na Festa de Nossa Senhora de Lourdes e na Semana dos Baleeiros. É sempre assim todos os anos. E interrogam-se: Como vão ser as Festas este ano? É tempo de se ir pensando no programa (se é que já não está organizado…) pois nas ilhas onde se celebram festas maiores, desde o princípio do ano que os órgãos da Comunicação Social vão anunciando movimentos preparatórios para essas festividades. (As Sanjoaninhas de Angra, v.g., são preparadas a partir do dia seguinte ao encerramento das festas do ano.)
A Festa de Nossa Senhora de Lourdes há muito que entrou na tradição dos lajenses e picoenses, e até mesmo faialenses.
Quando ainda não se falava em “semana de festas”, os faialenses metiam empenhos para que as suas filarmónicas viessem abrilhantar as solenidades de Lourdes e, um dos números do programa mais concorrido, era o arraial nocturno do sábado, onde as filarmónicas apresentavam os melhores reportórios, autênticos concertos, numa “disputa” leal que a numerosa assistência aplaudia. E não faltava o fogo preso, com o tiroteio entre o “castelo” e o “navio de guerra”!… As peças de fogo queimadas no arraial do sábado, em número de doze, e os foguetes de Vista e Apito, vinham da Ilha Terceira. No primeiro ano custaram 25.950 reis. Depois passaram a ser feitas por um hábil pirotécnico continental que se fixou no Cais do Pico.
Agora, é tudo diferente. O fogo que é queimado, em fim de festa, é todo aéreo e importado do continente. Mas, os números principais da semana são as sessões de arte e cultura, o desporto e os arraiais nocturnos. No entanto, a grande atracção, principalmente da juventude, são os artistas de ambos os sexos que trazem ao palco externo as melhores canções executadas por profissionais.
Todavia, e é de registar plausivelmente, as solenidades religiosas ainda não deixaram de ter o seu secular brilhantismo e de fiéis cumprirem promessas. Ainda é comum ver-se durante a tarde dos dias de novenário preparatório, pessoas das mais diversas idades e condições sociais caminharem a pé, desde as suas residências até à Matriz, em cumprimento de votos. Um sinal forte de que a fé e a religiosidade do nosso povo, católico que é pelo baptismo, mantém a sua fé na Senhora aparecida em Lourdes por dezoito vezes, a partir de 11 de Fevereiro de 1883, data em que a mesma Imagem chegou à Vila das Lajes.
A festa, nesse ano, foi celebrada a 30 de Setembro, mas nos anos seguintes passou a celebrar-se no último domingo de Agosto, dia em que a Igreja solenizava o Imaculado Coração de Maria.
Fazendo o relato circunstanciado da Festa, escreveu Dom João Paulino, ao tempo Vice-Reitor do Seminário de Angra e grande impulsionador da devoção, nesta vila e nas dioceses de Angra e, depois, de Macau, um artigo – reportagem no “Peregrino de Lourdes” de 20 de Julho de 1889, no qual nos dá notícia do esplendor de que se revestiu aquela primeira solenidade em honra de nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, são decorridos 124 anos.
E narra Dom João Paulino:
A ornamentação do templo dirigida por um hábil armador expressamente chamado da Ilha Terceira, - a música executada pela capela da Matriz e por alguns músicos de fora acompanhada a instrumental, - a boa execução das cerimónias religiosas uma grandeza e majestade nunca dantes ali presenciada pelos filhos da actual geração!
“De tarde foi a imagem conduzida pelas ruas da vila atapetadas de verdura e de flores, e vistosamente adornadas de bandeiras e de colchas. Tomaram parte no préstito religioso as irmandades da paróquia, numeroso clero e tudo o que há de mais selecto na sociedade local. Atrás do palio, sob o qual o Santo Lenho, tocava a Filarmónica “Lajense”, a primeira banda de música que houve em toda a ilha e que hoje conta cerca de 25 anos de existência. Depois seguia-se uma compacta multidão de fieis da freguesia e das freguesias vizinhas. Em todo o percurso da procissão subiam ao ar imensos foguetes como demonstração de público e geral regozijo.”

Julgo que é tempo de se pensar com a serenidade devida, nas festas de Nossa Senhora de Lourdes deste ano de 2007. Estão “quase em casa”. E quem refere as solenidades litúrgicas não relega a Semana dos Baleeiros que, àquelas solenidades, está tão fortemente ligada.
A devoção a Nossa Senhora de Lourdes nasceu com os baleeiros lajenses. Através das gerações esses bravos homens do mar, alguns ainda felizmente connosco, sempre foram grandes devotos da Senhora Aparecida em Lourdes há século e meio. É por eles que hoje se celebra “ a Semana dos Baleeiros”.
Vila Baleeira dos Açores,
Junho de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 11 de junho de 2007

DA HISTÓRICA CUSTÓDIA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE


A Igreja de Nossa Senhora da Piedade, da ilha do Pico, era uma das que possuia mais ricas alfaias e um excelente órgão de tubos.
A antiga igreja paroquial, situada no local hoje denominado “Império”, sofreu uma derrocada com o sismo que abalou aquela freguesia no ano de 1757, ficando totalmente destruída e perdendo-se todos os seus haveres. O povo não cruzou os braços. Um ano depois iniciou a construção da nova e actual Igreja, que, na tradição local, estava concluída oito anos depois, ou seja em 1766. Repetindo o que já escrevi sobre esta magnífica Igreja, devo registar que tem 42 metros de comprimento e dezasseis de largura. É de três naves, e as arcadas são em pedra regional, extraída da “Laje da Pedreira” do Calhau daquela freguesia, bem como todo o frontispício do templo, tendo a particularidade de, nas paredes laterais, existirem faixas igualmente em pedra lavrada. Segundo o prof. Manuel d’Ávila Coelho (A freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico, in Boletim do Núcleo Cultural da Horta, ano 1961, Vol.2, Nº3, pág.291), conta-se até que enquanto se levou em estudos para conduzir ao local próprio a enorme verga, ou lintel, da porta principal, o mar, num dia de fúria, a arrastou para o porto, onde facilmente foi carregada.
Daquela paróquia foi Vigário o Cónego honorário António Silveira Ávila Furtado, pessoa muito viajada e, segundo me dizia o Pe José Vieira Soares, Ouvidor do Concelho das Lajes, nas suas quase periódicas visitas a Lisboa, conseguiu obter dos antigos conventos e mosteiros, ricas alfaias para a sua Igreja, a troco de dádivas que fazia às freiras.
Foi assim que a Igreja da Piedade, meio século atrás ainda possuía alguns “pontificais” de excepcional valor. Nela existia igualmente um bom órgão de tubos que, devido à humidade e talvez à falta de uso, ficou inoperacional, o que levou um dos párocos que por ali passaram no século passado a desmantelá-lo e dele fazer um armário para a recolha dos paramentos. Uma medida que hoje não seria tomada pela facilidade que tem havido em restaurar os antigos órgãos. Este instrumento litúrgico foi construído em São Jorge por Tomé Gregório de Lacerda, em 1874, para a Igreja da Piedade, por 900$000 e foi o melhor dos quatro construídos por este organeiro.(vidé Notas Históricas, do Padre Manuel Azevedo da Cunha.)
Escaparam os ricos objectos de culto, entre eles uma custódia que, ao que consta, anda agora a ser objecto de reivindicações...
A custódia da Igreja da Piedade é hoje propriedade legal daquela paroquial e não pode nem deve ser dali desviada, a menos que se queira seguir o exemplo, que agora se repudia, dos antepassados.
Ainda segundo Manuel d’Ávila Coelho, no citado trabalho, Será interessante saber-se de que maneira veio parar à Piedade a grande Custódia de que já falámos.
O Vigário desse tempo, cónego António Silveira de Ávila Furtado, pediu ao seu Bispo uma Custódia emprestada, para servir na imponente festa de Nossa Senhora da Piedade, e este autorizou o tesoureiro da Sé a emprestá-la. O tesoureiro ao ver o cónego, que muito bem conhecia, mordeu o beiço, sabendo-o useiro e vezeiro em certas habilidades, mas estava ali o cartão do Prelado e cumpriu a ordem, correndo depois ao Paço a dizer que a Custódia não voltaria mais, porque aquele padre não restitui os objectos que levava para a sua Igreja, por empréstimo, ficando o tesouro privado daquela preciosidade.
Entretanto o Cónego entregava a Custódia ao mestre dum iate do Pico, que só esperava por ela para partir, e quando foi chamado ao Paço, onde lhe puseram embargos ao empréstimo, o facto estava consumado.
Passada a festa, começou a troca de correspondência para que a Custódia voltasse ao seu antigo lugar, mas o cónego, sempre muito respeitosamente, foi protelando a entrega, até que um dia apareceu, como água fria na fervura, um decreto ministerial transferindo a famigerada Custódia da Sé de Angra para a igreja de Nossa Senhora da Piedade.
O Bispo tinha sido logrado.
Como este, há outros factos muito interessantes
.
Por cá sempre constou que o Cónego António Silveira tinha grandes amigos e de destaque em Lisboa e que um dia, metendo-se a bordo de um barco, passando em Angra recolhido, se dirigiu à Capital e conseguiu do Ministro da Justiça e dos Cultos, a transferência da Custódia.
Tudo isto ocorreu ainda no século XIX e já vamos no século XXI e os ministros já não interferem nos bens eclesiásticos a partir de 1940!...Se me não falha a memória, era Ministro da Justiça e dos Cultos o conselheiro Veiga Beirão, o mesmo que decretou a colocação do Vigário Manuel José Lopes na Matriz da vila das Lajes.
Lajes do Pico,
Agosto de 2006.
Ermelindo Ávila

sábado, 9 de junho de 2007

MISSIONÁRIOS PICOENSES

Alguns foram os Missionários naturais da ilha do Pico que andaram por terras de África, da Índia e do Oriente “ dilatando a Fé e o Império”.
Não foram cantadas as “memórias gloriosas” desses bravos homens de Deus que um dia, abandonaram as suas casas e as famílias, as terras pacatas destas ilhas e os amigos do coração e partiram, no desejo ardente de espalhar por toda a parte os sentimentos de fé e de patriotismo que lhes ardia no peito. E foram vários. Chegaram a nossos dias e não muitos, ainda podem dar testemunho das suas vivências nas terras longínquas do Sol nascente.
No principio do século XX partiu do Pico o primeiro Bispo de Macau, Dom João Paulino. Fez-se acompanhar, como seu secretário do então seminarista, José da Costa Nunes. E a corrente missionária não mais se quebrou até que um dia, os ventos da História soprando em tempestuosas procelas, fizeram afastar os que ainda restavam dessa pleiade ilustre de Bispos e Sacerdotes, que nessas terras longínquas gastaram saúdes e vidas e aqui chegaram materialmente “de mãos vazias”, embora enriquecidos de uma experiência de anos de trabalhos e sacrifícios feita.
Por Macau andaram, além do Bispo lajense, Dom João Paulino de Azevedo e Castro, o Bispo, depois Patriarca de Goa e finalmente Cardeal Dom José da Costa Nunes e, aquele que o último foi da “dinastia picoense”, Dom Arquimínio Rodrigues da Costa, felizmente entre nós.
Dom Jaime Garcia Goulart, picoense, primeiro Bispo de Timor, aqui chegou abalado da saúde, depois de uma actividade memorável, ainda hoje recordada por aquelas paragens.
Por Cochim e Goa andou o Patriarca Dom José Vieira Alvernaz que, depois de uma acção missionária memorável, sofreu o vexame de ser abandonado e proscrito pelo Governo de Portugal.
Mas não somente os Distintos Bispos , cuja obra grandiosa está recolhida em vinte e oito volumes pelo Padre Tomás Bettencourt Cardoso, ele que foi o último Missionário de Macau.
Nesta pleiade de Missionários ilustres, é de lembrar o arcediago Raúl Camacho, que foi para Macau como secretário do Bispo Dom José da Costa Nunes, e ali foi professor no Seminário diocesano. Regressou aos Açores em 1940, sendo aqui Pároco das Bandeiras e Ouvidor do concelho da Madalena.
Recordo o Deão José Maria Fernandes, que foi, além de capitular da Sé e de Professor, Governador do Bispado aquando da transferência de Dom José da Costa Nunes para Patriarca de Goa.
E os Missionários, Cónego Dr. Fernando Herberto Leal Maciel, que viveu a sua infância nesta vila, onde veio a ser ordenado pelo Bispo Dom José da Costa Nunes e aqui celebrou a Missa Nova. Foi Deão e Pároco da Sé de Macau, professor e reitor do Seminário e professor do Liceu daquela cidade.
O Dr. Áureo de Castro, distinto maestro, com o curso do conservatório de Lisboa, distinto compositor, professor e maestro.
O Pe. José Pereira da Silva Brum , formado no seminário de Macau, onde foi ordenado em 1942, e para onde fora ainda jovem, missionário em Macau, e em Timor, onde foi professor. Para aqui veio, aquando da ocupação daquele território pela Indonésia, pobre como Job e ainda trazendo sete dos seus alunos , alguns ainda em Portugal.
O Cónego António Maria Nunes da Costa, natural da Candelária (1920) foi cónego e arcediago da Sé, professor do Seminário e director do Boletim da Diocese. Voltou ao Pico em 1960, por falta de saúde, onde veio a falecer em 1984. Aqui dedicou-se à investigação histórica, cujos trabalhos ficaram inéditos, desconhecendo-se o paradeiro.
O Padre João Machado e o Padre António de Simas Machado, este regressado a Portugal doente e que veio a falecer na sua casa de Santa Bárbara, ao cuidado da Família.
O Padre Isidoro Alves, Missionário em Timor, onde exerceu a sua actividade missionária e de professor (foi professor do primeiro Presidente da República de Timor, Xanana Gusmão) e que abandonou após a invasão do território.
E, ainda, o Padre José Maria das Neves. Ordenado em 1040, foi professor do Seminário de Angra e depois, em 1941 acompanhou como secretário, Dom José Vieira Alvernaz, eleito Bispo de Cochim. Em 1950 Esteve como Missionário em Lourenço Marques e em 1953 como secretário de Dom José, já então Patriarca das Indias, e Arcebispo de Goa, Damão e Dio. Foi Capelão do Exército Português na India, de 1954 a 1961 e em 1962 voltou a Portugal onde exerceu os cargos de Director Nacional das Obras Católicas de Emigração, Assistente Nacional das Obra dos Soldados e Capelão da TAP. Em 1966 voltou à Diocese de Angra, onde exerceu diversos cargos na Cúria, vindo a falecer em 1980.
Nos Estados Unidos há uma pleiade ilustre de Missionários picoenses, a começar pelo Padre João Inácio de Azvedo Encarnação, natural da Piedade (1841).
Há ainda Mons. Manuel Vieira Alvernaz, nascido na Ribeirinha em 1917, Padre Manuel da Costa Nunes, nascido na Califórnia, filho de pais picoenses, (era sobrinho de D. José da Costa Nunes) e por último o Padre João Vieira Serpa, natural de S.ta Luzia (1941) e a paroquiar em Toronto onde é muito querido da comunidade picoense.
As memórias de todos estes abnegados e sacrificados missionários não pode ser esquecida. Importa perpetuá-la para que os vindouros a conheçam e a respeito. É por isso que está em formação o MUSEU MISSIONÁRIO. Importa que a iniciativa vá em frente, onde os espólios abençoados desses herói da fé, sejam recolhidos e convenientemente acautelados.
Lajes do Pico, Maio de 2004-05-27

sexta-feira, 8 de junho de 2007

SOLENIDADE DO CORPO DE DEUS

Na passada quinta-feira a Igreja Católica celebrou a Festa do Corpo Deus. Trata-se de uma das mais antigas solenidades da Liturgia Católica, Conta mesmo muitos séculos.
Os Reis portugueses sempre tiveram muito respeito por esta solenidade e tomavam parte, com todos os cortesãos, na procissão que anualmente se realizava na capital do reino.
Reza a História que esta festa foi inicialmente instituída em Liege, Bélgica em 1246, passando depois a Portugal, sendo realizada já no reinado de Afonso III (1210-1279) Era o Rei e o Príncipe que levava as varas do pálio onde o Cardeal Patriarca conduzia a Custódia com a Sagrada Hóstia.
A Matriz das Lajes também celebrava, com grande solenidade, a Festa do Corpo de Deus. Nela tomavam parte, desde remotos tempos, as autoridades civis e militares, as corporações de artífices com suas bandeiras, as irmandades erectas na Paróquia e imenso povo.
D. João Paulino de Azevedo e Castro, ao tempo reitor do Seminário de Angra e um dos grandes impulsionadores da devoção e festa de Nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, em artigo publicado no dia 27 de Julho de 1889, no jornal angrense Peregrino de Lourdes, sobre o incremento da festa, escreveu também:
A Vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias (das festas) um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães-mores, em que a festa anual de Corpus Christi atraía ao seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armadas de chussos e espadas em atitude bélica, - vê-se durante estes dias povoada de estranhos, que em atitude pacífica, armados quando muito do rosário a visitam, atraídos de todos os pontos da ilha pelo encanto da devoção à Virgem de Lourdes.
Sem o aparato bélico, nem as interferências das autoridades, a Igreja manteve sempre a solenidade do Corpo de Deus, embora, no princípio do regime republicano, tivesse de solicitar autorização administrativa para a organização da Procissão. E ainda me lembro de, no largo, então conhecido por “Meio da Vila”, se armar um altar onde era colocada a sagrada Custódia e dada a bênção solene ao povo ali reunido, seguindo depois a Procissão até à igreja de São Francisco, donde havia saído, e que desde 1904 servia de matriz.
No continente, até meados do século XVIII, os foliões acompanhavam a Procissão do Corpo de Deus. Em 1672 os foliões também acompanharam a Procissão de Corpus Christi na Horta O mesmo acontecia nos séculos XV a XVII nas cidades de Coimbra, Castelo Branco, Guimarães, Viseu e outras terras.
O Bispo D. António Vieira Leitão, que faleceu nas Velas, S. Jorge, quando ali se encontrava em visita pastoral proibiu, em 1669, as danças nas procissões do Santíssimo Sacramento e em 1707 estendeu a proibição a todos os bailes. Mesmo assim, pelos Açores os foliões só desapareceram das procissões, logo que foram aparecendo as filarmónicas. Subsistindo hoje nas festas do Espírito Santo mas só se exibem até à porta das igrejas.
Vila das Lajes, Junho de 2007
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 6 de junho de 2007

BALEIA À VISTA!

Da vigia da Queimada rebenta o foguete enviado pelo vigia Candinha. Francisco Barreto, (que ficou conhecido por Francisco da Vigia) lança também o foguete. Da Vigia da Terra da Forca (depois o Moinho).
Nas ladeiras da Vila os homens de trabalho gritam baleia! e até o papagaio do Lopes, habituado a tais alvoroços, também palra: Baleia, Tomé! Baleia, Tomé! Anda cá p,ra baixo, Tomé! Em correrias loucas descem os íngremes carreiros e encaminham-se para as Casas dos Botes. Não são os primeiros, pois alguns, que aguardavam o sinal nos “degraus da Emília” ou nas banquetas das Casas dos Botes da Vila, já levavam os botes para a “borda d,água”. Mas os baleeiros vinham sempre a chegar: da Ribeira do Meio, das Terras da Vila, das oficinas de sapateiro, carpinteiro e ferreiro.
As “chatinhas” já haviam conduzido a bordo das lanchas a motor, apoitadas no meio da Lagoa, as respectivas tripulações. E estavam elas preparadas para lançarem os cabos de reboque às primeiras canoas.
As mulheres ou filhas dos baleeiros, corriam, entretanto, para junto das canoas a levar a bolsa ou cesta com o “farnel para a viagem”.
O rapazio por lá se encontrava, ansioso por as lanchas saírem do Caneiro para bordejarem, dentro da Lagoa, nas pequenas “chatas”.
Os trabalhos da terra haviam cessado. Os que ficaram, foram para os altos – Terra da Forca, Queimada ou cabeço da Granja – utilizando binóculos de vários alcances, para acompanharem a baleação lá no alto mar.
As horas passavam. As baleias vinham à tona da água bufar e caminhavam para o abismo. Em terra os vigias começaram na árdua faina dos sinais: panos brancos e fogueiras (os rádios transmissores e receptores ainda vinham longe…).
Num dado momento as baleias saem mesmo junto aos botes da Vila. Os das Ribeiras e Calheta também já “andavam fora”. E foi a perseguição cautelosa dos “reis dos oceanos”.
Há um sinal na vigia: baleia trancada. Era o bote do Garcia da Rua Nova. Uma baleia grande. Em terra foi uma alegria. O Garcia há muito que não tinha essa sorte e, demais, tripulava um bote novo da Companhia dos “Serrafilhas”.
Antes do meio-dia a baleia, com a ajuda das canoas companheiras, estava morta e iniciava-se o reboque para terra.
Ao “Caneiro” iam chegando homens e mulheres – as mulheres dos baleeiros com cafeteiras de café quente para os “seus homens”, - rapazes de todas as idades, uma multidão de curiosos inquietos para verem a “baleia do Garcia”.
Uma alegria enorme e uma grande riqueza. Uma baleia de cem barris! Tarde viria outra igual.
Mais tarde foram chegando outras canoas a reboque das lanchas, mas só o Garcia tivera a sorte de apanhar, naquele dia, uma grande baleia. E o que se passou em terra, de tétrico e doloroso, fica para a história. Somente se anota que um dirigente faleceu de alegria!...
Vila Baleeira
Julho de 2006
Ermelindo Ávila

domingo, 3 de junho de 2007

O Dever celebra 90 anos

Afinal, somos os dois já nonagenários, embora eu conte um ponto e tal a mais…
O Dever apareceu a primeira vez no dia 2 de Junho de 1917. Quinze dias antes a Virgem havia aparecido em Fátima aos três Pastorinhos. Uma coincidência providencial?! Mas há uma diferença assinalável: enquanto um vai caminhando para o fim, o outro vai-se rejuvenescendo, cada dia que passa, sempre mais jovem e vigoroso.
Todavia, não se julgue que tem sido fácil a vida do jornal. Surgiu numa época em que a Igreja era constantemente atacada e vilipendiada por um jacobinismo feroz que não escolhia meios para atingir os seus fins. E o fim era acabar com o catolicismo em duas gerações como apregoavam os seus corifeus.
Felizmente que não atingiram os seus diabólicos objectivos. Fátima é o testemunho forte de que os perseguidores da Igreja não conseguiram seus nefandos projectos.
Na História da Diocese a primeira República deixou a sua presença marcada por vilanias tamanhas que hoje estão talvez esquecidas mas que não deixaram de ferir, dolorosamente, a própria Igreja e os católicos da recuada época.
A lei da “Separação da Igreja do Estado” (1 de Julho de 1911) permitiu uma autêntica perseguição ao clero. Alguns sacerdotes foram presos por “terem o atrevimento” de andar na rua com vestes talares. Um deles foi o Pároco de S. Bárbara da Terceira que, somente por atravessar a rua com batina, do passal à igreja, foi preso e conduzido a pé, por uma força militar, à cidade de Angra onde esteve detido um dia e, solto, proibido de voltar à freguesia, Santa Bárbara… O Vigário Capitular de Angra foi deportado para S. Miguel. E escreve ainda o C.º Pereira em A Diocese de Angra na História dos Seus Prelados, páginas 45, donde respigo estas notas: Na Vila do Topo, quando o Pe. Armelim Mendonça, que havia feito concurso para a respectiva Matriz, veio tomar posse da igreja, uma multidão, movida pelos caciques políticos, foi-lhe ao encontro, gritando que o não queriam ali. Alegavam que ele não tinha licença do Ministro da Justiça para ir paroquiar naquela Vila! Ele retirou-se para Santo Antão, onde depois foi colocado. Poucos dias depois os manifestantes apagaram a lâmpada do SS. Sacramento, deixando ficar no Sacrário as Sagradas Espécies, fecharam a igreja e foram em procissão lançar a chave ao mar!
Até o nosso conterrâneo P. Moniz Madruga, pároco da Feteira, Faial, foi processado por ter lido aos paroquianos uma Provisão do Vigário Capitular, ficando em liberdade sob uma caução de um conto de reis! E outros mais!
Foi neste ambiente de hostilidade que o P. João V. Xavier Madruga foi nomeado Pároco e ouvidor da Vila do Topo. Era, ao tempo, professor do Seminário. Escusado será dizer aqui que, o ambiente hostil que o esperava lhe dificultou seriamente toda a acção pastoral. As ameaças e calúnias foram-se sucedendo mas o Pe. Madruga nada temeu. Manteve-se no seu posto com denodo e coragem mais de dez anos!
Em 2 de Junho de 1917 funda na vila do Topo o semanário O Dever, onde procura defender-se das aleivosias, sobretudo, aquelas que eram vilmente dirigidas à Igreja.
A seguir, e com a colaboração do Pe. Manuel Joaquim de Matos, Vigário da Vila da Calheta, estabelece ali a redacção e oficina tipográfica, continuando, porém, a ser perseguido, insultado e caluniado. (Decorridos algumas dezenas de anos, antigos “inimigos” procuraram-no a desculpar-se!.. )
Depois de muito sofrer e já bastante doente, vem para o Pico repousar na casa da Família. Restabelecido, é colocado como vigário na freguesia da Candelária.
No entanto, sob a sua direcção O Dever continuou em S. Jorge, embora fosse sistematicamente perseguido pela censura local, o que levou o P. Madruga a pedir para que a publicação ficasse sujeita ao Oficial Censor da Horta. Porém, com o falecimento do Pe. Matos, viu que era a ocasião azada para trazer o jornal para junto de si. Já então se encontrava na situação de manente, nesta vila. Superiormente é concedida a necessária autorização e a tipografia, redacção e administração são instaladas nas Lajes, publicando-se o primeiro número em 3 de Setembro de 1938. E aqui tem estado O Dever, hoje um dos dois semanários mais antigo da Região. Noventa anos! Quase um século!
Aquando do falecimento do P. Xavier Madruga, em 30 de Março de 1971, escreveu o Boletim Eclesiástico de Angra: “O estilo fluente e acessível proporcionava aos seus leitores uma leitura agradável e proveitosa. Prestou sem dúvida um relevante serviço à Igreja e honrou a Diocese ao longo da sua vivência sacerdotal.
O DEVER, mais do que um jornal, é uma instituição valorosa desta vila. Desde a sua fundação sempre esteve ligado à Vila das Lajes. A História desta terra está, sumariamente embora, nele registada. Quando na Vila da Calheta, quinzenalmente publicava uma secção - Correio das Ilhas, com notícias e não só, da ilha do Pico. Uma vez instalado nas Lajes, passou a ser o maior defensor dos interesses da vila das Lajes e de toda a Ilha do Pico. Compulse-se os seus noventa volumes, com quase quatro mil e quinhentas edições, e ter-se-á o comprovativo da intransigente defesa da Igreja, da Ilha do Pico e da própria Nação Portuguesa. O seu lema foi, durante muitos anos e ainda é, embora não o registe, Por Deus! Pela Pátria!
Quase toda a minha longa vida estive ligado a O Dever. Nele iniciei uma modesta colaboração em 1932. Quando passou a publicar-se nesta vila, fui seu primeiro editor, redactor e administrador, cargos que exerci vários anos até que as funções oficiais que desempenhei m’o impediram. Mas nunca deixei de dar o meu contributo ao jornal, com certa paixão e dedicação. Ela ainda aí está. E quantos não se iniciaram no jornalismo, publicando suas premissas no jornal, pois o seu Director acolhia a juventude com um carinho muito especial!...
É por tudo isso que, quase um companheiro de jornada, ainda estou aqui a lembrar os que partiram, em especial o seu Fundador e querido e venerando Mestre e Amigo, Pe. João Vieira XAVIER MADRUGA, que dirigiu o jornal durante 53 anos; o Pe. António Cardoso que, inspiradamente, adquiriu o jornal, em 1970, para a Paróquia e foi seu director até à transferência para a Terceira; e o Dr. Rogério Gomes, que brilhantemente o dirigiu enquanto Pároco da Matriz das Lajes. E também para felicitar quantos têm ajudado paciente e dedicadamente o jornal para que pudesse atingir tão provecta idade.
O Dever vai continuar! É um tesouro muito rico para os lajenses que não o podem nem devem abandonar nem esquecer. Faz parte do Património da vila, do concelho e da própria Ilha do Pico.
E bem merece que, nesta passagem do nonagésimo ano, algo de concreto assinale tão importante efeméride. Fica a sugestão a quem de direito, como soe dizer-se.
Lajes do Pico,
Junho, 2007
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O LAMPIÃO

Ficava ali, no “Meio da Vila.” Era um marco que assinalava uma era de progresso para o burgo. Um dia alguém entendeu retirá-lo dali e “sepultá-lo” no areal da Lagoa. Foi na década de quarenta do século XX que isso aconteceu. Não houve quem reclamasse porque ninguém estava disposto a contrariar a autoridade, dado que ela tinha todos os poderes...
Em reunião da Câmara de 16 de Novembro de 1896 deliberou a Vereação comprar candeeiros para alumiar a Vila. Para esse efeito, no orçamento para o ano de 1897, inscreveu a verba de
250$000 (reis).
Em sessão de 8 de Agosto de 1898 deliberou a Câmara inscrever a verba de 30$000 para a compra de escadas, concerto de candeeiros, tesouras, toalhas e outras miudezas, e 80$000 para a compra de oito candeeiros. Na mesma sessão foi deliberado abrir concurso para o contrato do indivíduo que acendesse os candeeiros pelo espaço de um ano. Concorreu Joaquim Moniz Barreto, pelo preço de 7l$996 reis.
Em 1899 foi orçada a quantia de 130$000 para a aquisição de petróleo, mas não houve concorrentes.
Curiosamente, em sessão de 9 de Janeiro o novo presidente, comendador António Homem da Costa, propôs a redução de uma hora de iluminação por dia para que, com a economia resultante dessa medida, “se possa fazer a conservação e limpeza do cemitério, cuja despesa estava insuficientemente dotada no orçamento – passando a iluminação a terminar às 9 horas da noite”! Nesse ano o fornecimento de petróleo foi adjudicado, por 175 reis o litro, a Francisco da Rosa Vieira Júnior.
Em Junho de 1909 os serviços do Estado deixaram de acender as luzes do porto (dois candeeiros que serviam para dar às embarcações o enfiamento da “Carreira”. A Câmara viu-se obrigada a assumir esse encargo. E continuou a fazê-lo durante largo tempo, tendo já em 1940 adquirido dois lampiões grandes, que haviam pertencido a um veleiro transatlântico, para garantir esse serviço que, mais tarde, veio a ser assumido pela Delegação Marítima.
Em 1912 a iluminação Pública custou 215$000 e em 1916 foi orçada, para essa despesa, a importância de 164$000. O orçamento de 1916 foi de 136$000.
Em sessão de 2 de Agosto de 1910 a Câmara tomou conhecimento da oferta, pela Câmara Municipal da Horta, que passou a dispor de iluminação eléctrica, de um candeeiro de petróleo por incandescência de força de mil velas, afim de ser colocado nesta Vila. Foi esse candeeiro colocado no centro da Vila (Praça) mas deixou de funcionar quando um indivíduo, doente mental, resolveu partir os candeeiros da iluminação pública, o que levou a Câmara a suspender a iluminação. Ainda recordo os candeeiros nas paredes das casas das ruas da vila, mas sem actividade. No entanto o lampião, como era conhecido o candeeiro colocado na Praça, era um marco para os adolescentes das décadas de vinte , trinta e até quarenta.
Quando foi instalada a rede da iluminação eléctrica, a cargo da Empresa Eléctrica Lajense, constituída por escritura de 11 de Outubro de 1930, o alto e elegante candeeiro, passou a ser iluminado a electricidade, produzindo excelente efeito para a vila.
Hoje a praça (actual Largo Gen. Lacerda Machado) está deficientemente iluminada. Faz falta um ou mais candeeiros no seu centro agora que o respectivo pavimento foi remodelado e modernizado. Seriam peças decorativas interessantes, já que a iluminação daquele espaço é feita, simplesmente, com candeeiros fixados nas paredes laterais. E seria até uma maneira de se pensar em melhorar a iluminação do frontispício da Matriz, como acontece por essas cidades, vilas e até freguesias da chamada Região, fazendo-se previamente a pintura daquele monumental edifício, como merece.
Será que esta lembrança vai merecer acolhimento?
Vila das Lajes, 1 de Agosto de 2004
Ermelindo Ávila
in, Figuras & Factos II vol.,2005